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Brasil A gravidez de risco até os 14 anos de idade persiste no País

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Corpo e mente em geral ainda não estão preparados. (Foto: Reprodução)

ois meses depois de ter contado para sua mãe que estava grávida, Maria, de 14 anos, deu à luz um menino. O filho nasceu prematuro – ela não sabe ao certo o tempo de gestação. O medo da reação da família e o constrangimento com a gravidez fizeram com que ela só tivesse feito duas consultas de pré-natal e não soubesse que desenvolveu hipertensão e uma infecção urinária que levaram ao nascimento prematuro do bebê.

Maria faz parte da faixa etária considerada por especialistas como a de maior vulnerabilidade gestacional, para a mãe e o bebê. Apesar do alto risco da gravidez em meninas com menos de 15 anos, o Brasil não avançou na última década na redução desses casos. Enquanto o País conseguiu reduzir o índice de bebês que nascem de mães entre 15 e 19 anos de 20,1% do total, em 2007, para 16,7%, em 2016, a mudança é lenta na faixa etária das mães mais jovens. Nesse mesmo período, a taxa de bebês nascidos no País filhos de meninas entre 10 e 14 anos oscilou de 0,94% para 0,85%, segundo dados do Ministério da Saúde. Dos 2,8 milhões de bebês nascidos em 2016, 23,9 mil são filhos de mães com essa idade.

Essas gestações demonstram uma série de falhas nos cuidados com essas jovens, como a falta de informação, educação, acesso a anticoncepcionais e proteção contra a violência sexual. Além dos riscos por fatores biológicos – já que muitas vezes o sistema reprodutor ainda não tem a maturidade completa –, especialistas apontam problemas ainda maiores nessa idade por questões sociais e comportamentais. Muitas jovens, como Maria (nome fictício, assim como os demais usados na reportagem, para preservar as adolescentes), não têm compreensão sobre cuidados na gravidez, nem mesmo o entendimento sobre como ela ocorre.

“Não sabia que dava para engravidar na minha idade. Minha menstruação veio a primeira vez um ano antes de eu engravidar e era sempre estranha, não vinha certinho todo mês, como a minha irmã falou que seria”, conta Maria. A irmã, três anos mais velha, foi quem suspeitou da gravidez quando nadavam juntas em um rio e percebeu a barriga “despontando”.

Maria fez um teste de farmácia e, apesar do resultado positivo, esperou mais algumas semanas até contar para a família por acreditar que poderia não estar grávida. “Não senti nada durante a gravidez, nenhuma dor ou mal-estar. Até que um dia meus pés incharam, me deu tontura e fiquei enjoada. Cheguei no hospital e não saí mais daqui”, disse ela, dois meses após o nascimento do filho e sem ter saído nenhum dia do lado dele na Maternidade Mãe Luzia, em Macapá, a única pública no Estado.

Acompanhamento

O Amapá é um dos que têm maior proporção de bebês nascidos de mães com menos de 19 anos – um em cada quatro. Enquanto o País registra 0,88% das crianças nascidas de mães com menos de 15 anos, o Estado tem proporção de 1,37%. Os médicos da Mãe Luzia admitem não conseguir dar a atenção devida para todas as adolescentes. “Toda gravidez até 17 anos deveria ter acompanhamento de pré-natal de alto risco, mas não conseguimos fazer isso com todas. Para dar conta, restringimos o alto risco para até 15 anos, mas ainda assim nem todas têm acesso”, explica o médico Carlos Filho, diretor da unidade.

Prematuro, o bebê de Maria passou dois meses na UTI neonatal, entubado e medicado. Dados do Ministério da Saúde mostram que a situação da adolescente e seu filho não é caso isolado no País. O grupo das grávidas de 10 a 14 anos é o que tem a pior cobertura de pré-natal. Segundo especialistas, isso explica outros dados preocupantes da faixa etária. São 15,1 óbitos fetais a cada mil nascidos vivos – ante média de 10,9 no País. A taxa de bebês com baixo peso (até 2,5 quilos) é de 13,7%, ante 8,4% na média nacional.  Nas mães com essa idade, 17,1% das crianças nascem prematuras (com menos de 37 semanas) – a média geral é de 10,8%.

“Sem ter um acompanhamento adequado na gravidez, elas podem desenvolver doenças específicas da gravidez que poderiam ser prevenidas ou controladas, como a síndrome hipertensiva, infecção urinária, hemorragias que levam à prematuridade”, diz Maria Albertina Rego, da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Quando questionada sobre onde vai morar com o bebê ao sair do hospital, os olhos de Maria ficam marejados. Seu plano é de morar com o namorado e os sogros. Apesar de já ter cuidado dos irmãos mais novos, ela nunca havia segurado um recém-nascido no colo e diz ter medo de não saber dar ao filho o que ele precisar. “Não sei quando ele vai querer mamar, trocar fralda. A mamãe está me falando o que tenho que fazer, mas só vou aprender com ele em casa”, conta.

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https://www.osul.com.br/gravidez-de-risco-ate-os-14-anos-de-idade-persiste-no-pais/ A gravidez de risco até os 14 anos de idade persiste no País 2018-01-08
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