Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 2 de fevereiro de 2018
A forte indefinição do jogo eleitoral de 2018, exposta pela última pesquisa Datafolha, tem a ver com a falta de um candidato que levante a bandeira do combate ao desemprego, “o principal problema brasileiro”, avalia o marqueteiro baiano André Torretta.
Ele é sócio da CA-Ponte, braço brasileiro da Cambridge Analytica, empresa que ganhou notoriedade por atuar na campanha de Donald Trump, nos EUA, e por ser pioneira no uso de psicologia comportamental com base em grandes bases de dados em campanhas políticas. A firma trabalha desde março do ano passado no Brasil.
Para o publicitário, a eleição está indefinida principalmente para o centro, que precisa definir um discurso sobre a crise econômica. Já procurado por Jair Bolsonaro, ele não quis revelar as razões para se negar a trabalhar para o presidenciável. Mas afirmou que descarta fazer campanhas para os extremos, carapuça que diz não servir em Trump – nem em Lula.
Com experiência em campanhas em Brasil, Argentina e Bolívia, Torretta também foi fundador do Data Popular, instituto de pesquisas sobre hábitos da classe C.
“Bastante indefinido principalmente para o centro. Como se diz, na política não existe vácuo. A boa estratégia pede que você decida a campanha na pré-campanha, e essa é uma campanha que será decidida na campanha mesmo. Ninguém está atuando para preencher o vácuo. Nosso candidato ideal não apareceu ainda”, afirmou.
“A campanha vai começar de fato em agosto. Você não tem ninguém com uma campanha estruturada e dando resultado no dia de hoje. Isso é um fato que o Datafolha está mostrando. Então a gente vai ter uma campanha que vai ser vencida por comunicação e política. A comunicação passa, para o bem e para o mal, a ter uma importância fundamental”, salientou o publicitário.
O empresário também falou dos tempos curtos de Marina e Bolsonaro, ao contrário de Alckmin e Ciro Gomes. “A internet no Brasil influencia, mas não resolve uma campanha. Você tem 107 milhões de pessoas no Facebook, o que significa que você tem 100 milhões fora dele. Então a gente ainda tem uma campanha que será televisiva.”
“E os marqueteiros brasileiros não sabem fazer campanha nas mídias sociais porque tem 60 dias que houve a mudança da legislação. Ninguém nunca fez isso no Brasil. Não estou dizendo que o cara é ruim ou bom, mas que é inexperiente. E isso vai causar mudanças, porque se você tiver um bom candidato com uma péssima comunicação, desastrosa nas redes sociais, que ninguém conhece, vai piorar. E pode vir uma surpresa por aí.”
Desemprego
Para o publicitário, o principal problema brasileiro está posto de lado. “Mas eu acho que ainda é uma questão de discurso, de narrativa pré-eleitoral. Ninguém está discutindo o principal problema brasileiro, que se chama desemprego. Finge-se que a discussão é entre um cara de esquerda, que não está falando nisso; um povo de direita que fica falando de reforma; e o cara que está desempregado fica a ver navios.”
“Hoje temos 12 milhões de desempregados. É o fato, o resto é bola de cristal. Será que eliminaremos 12 milhões de desempregados em seis meses, para assim influenciar a campanha eleitoral? Não existe melhora da economia se não existe melhora de emprego, que é onde o cara sente a economia. Não adianta falar que está tudo bem e o cara está há três anos desempregado, teve que tirar a filha da universidade e diminuiu o tamanho do carrinho de supermercado. Melhorou para quem? Tem uma dissonância muito grande entre discurso e verdade”, disse.
Redes Sociais
“Essa é uma campanha muito boa para o candidato a deputado federal e estadual. O que davam para ele era um pequeno espaço na televisão de dez segundos. Pela primeira vez ele vai poder fazer uma campanha eletrônica, e isso influencia obviamente a campanha presidencial. O senador, que fazia pouca campanha, agora pode fazer uma campanha literalmente majoritária”, afirmou. E continua: “Eu acho que 40% da campanha eleitoral desse ano será feita pelas mídias sociais, aumentando para 80% quando você vai para deputados estaduais e federais que não são eleitos em grotões. E você ainda tem um novo fenômeno brasileiro, bom, que são os movimentos de direita, de esquerda, que não existiam. Esses caras podem fazer comunicação porque não são eleitorais. E hoje têm influência política maior que os partidos”.
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