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Brasil Homem que estava à beira da morte escreve um livro após passar por 23 cirurgias

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Luiz Alberto Simões Volpe contraiu o vírus da aids em 1989 e, de lá pra cá, ja passou por uma série de problemas de saúde que renderam o material de se livro "Morte e Vida PositHIVa". (Crédito: Reprodução)

Metade da vida de Beto Volpe é marcada pela luta contra a aids. Ele é portador do vírus HIV há 26 anos, passou por 23 cirurgias, dois cânceres e chegou a ser considerado paciente em estado terminal. Morador de São Vicente, no litoral de São Paulo, Volpe viu colegas infectados morrerem, perdeu a fé, mas fugiu à regra e sobreviveu. Beto escreveu um livro contando a sua história e expondo suas opiniões sobre a doença e as políticas públicas, com o objetivo de provocar mudanças. Aos 54 anos, ele diz ser feliz e espera que a humanidade chegue à cura da aids, um de seus maiores sonhos.

Morte social. 

Luiz Alberto Simões Volpe contraiu o vírus em 1989, aos 28 anos. “Era uma época em que ter aids era não estar mais vivo. Você tinha uma morte social”, diz. Ele tinha uma vida sexual ativa com vários parceiros e resolveu fazer um teste de HIV. O resultado foi negativo. Mesmo assim, mudou de hábitos e passou a usar preservativos nas relações sexuais. “Até que eu encontrei o grande amor da minha vida, ou pelo menos parecia ser. Nos apaixonamos. Perdemos o controle, quando fomos ver já estávamos transando sem camisinha, porque queríamos morrer juntos”, conta. A relação terminou pouco tempo depois, após uma traição por parte do parceiro dele.

Aids chegou em sua vida em 1989. 

Em novembro de 1989, Volpe começou a ter sonhos, onde aparecia extremamente magro, sem cabelos, amparado por amigos. Então, ele resolveu fazer um novo exame, que deu positivo para o vírus HIV. “Recebi a notícia da assistente social com tranquilidade. Já estava esperando por isso. Vim para casa e contei à minha família. Foi um dos momentos mais doloridos de toda a minha vida. Tive total apoio deles e esse é um dos grandes motivos de eu estar aqui hoje”, revela.

Após a morte de Cazuza, em 1990, Volpe perdeu a esperança de viver. “Foi aí que eu cometi o grande erro da minha vida e perdi a fé. Não no sentido religioso, a fé de que o amanhã será melhor que hoje. Eu me entreguei às drogas”, confessa. Cada vez mais fraco, ele teve uma pneumonia severa, episódios de AVC, toxoplasmose e candidíase. “Fiquei internado em um hospital de São Paulo, pesando menos de 40 quilos, com febre de 40 graus e precisando de transfusão de sangue com urgência. Desmaiei, fiquei três dias apagado”, lembra ele, que foi considerado, na época, paciente em estado terminal.

Nova esperança. 

No entanto, Volpe “voltou” à vida e considerou esse episódio um divisor de águas na sua história. Nessa época, ele já tomava o coquetel antiaids, uma combinação de medicamentos antirretrovirais distribuídos gratuitamente pelo governo federal para todos que necessitassem do tratamento. Para ele, o coquetel foi o grande avanço na história da doença, que permitiu que ele e outras pessoas continuassem vivas até hoje.

Porém, ele sentiu os efeitos colaterais dos remédios. Além de enjoo e diarreia, ele teve lipodistrofia, que é o acúmulo ou perda de gordura de determinadas partes do corpo. Também teve osteonecrose, doença caracterizada pela morte das células ósseas, que provocou a retirada da cabeça do fêmur de uma de suas pernas. Ainda sofreu de catarata aos 48 anos e disfunção erétil aos 38. Ao todo, passou por 23 cirurgias, boa parte delas ortopédicas.

O ataque do câncer. 

Ele ainda teve dois cânceres, o primeiro em 2003 e, o segundo, em 2009. “É louco. O meu médico disse: ‘Você está com linfoma e está avançado’. Na biópsia que fiz, meu tumor estava na medula, no pescoço, no pulmão, no fígado, no baço, no reto peritônio e na virilha. Foi muito louco. Não se consegue imaginar nada mais grave em saúde do que câncer e aids juntos”, conta.

Beto fez radioterapia, perdeu peso e todos os pelos do corpo. Enquanto isso, continuava tomando o coquetel antiaids. “A radioterapia foi extremamente dolorida, um sofrimento. Mas não perdi o rebolado. De alguma forma, sempre acreditei. Já perdi a fé uma vez e vi no que deu. É ter fé sempre. Foi assim, contando piadas, que eu consegui. Me senti um Homem de Ferro, um Superman, um Thundercat”, brinca, bem humorado.

“Morte e Vida PositHIVa”. 

Por isso ele decidiu contar sua história de luta contra a aids em um livro. A ideia ficou abandonada por um tempo e foi retomada há três anos. Segundo ele, a obra narra fatos da infância e juventude, do movimento social contra a aids, do qual se retirou há três anos, e também traz críticas à gestão pública da doença no Brasil. “Já está aí, ‘Morte e Vida PositHIVa’, uma analogia à ‘Morte e Vida Severina’, de João Cabral de Melo Neto. É um livro bastante ácido, mas, como tudo em minha vida, mescla humor e drama, ponderando, para provocar uma reflexão. Eu acredito profundamente que o humor é uma arma potente para provocar reflexão e mudanças de atitude”, diz.

Volpe afirma que se considera uma pessoa feliz e que sabe o sentido da vida. Ele sonha com um sistema de saúde pública funcionando melhor, porque não consegue ser totalmente feliz sabendo que muitos não têm acesso a tratamento e informações. Ele sonha também com a cura da Aids e acredita que isso está cada vez mais próximo. “Eu sonho em morrer depois de mamãe, meu único grande tesouro na vida. Já foram meu pai e meu irmão, somos só nós dois hoje. Meu grande objetivo na vida, hoje, é fazer com que a vida dela seja a melhor possível, até que chegue o último suspiro”, conclui. (AG)

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