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Por Redação O Sul | 26 de julho de 2017
Uma ampla e inédita análise de 185 estudos que incluem a contagem de espermatozoides de homens ao redor do mundo desde os anos 1970 até 2013 detectou uma forte redução neste parâmetro da fertilidade e saúde masculinas entre os habitantes de países ocidentais ricos. Segundo os pesquisadores, os dados indicam que neste período tanto a concentração quanto a quantidade total de gametas caíram mais que a metade entre os moradores em geral da América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia, e em cerca de um quarto nos habitantes destas regiões do planeta previamente classificados como “férteis” nos estudos avaliados, como, por exemplo, os que já tinham sido pais na época dos exames.
Já entre os moradores de países da América do Sul, África e Ásia, os resultados do levantamento, de um tipo conhecido como meta-análise, foram contraditórios. Isso porque, embora também tenha apontado quedas, ainda que bem menores, na concentração e quantidade total de espermatozoides na população masculina em geral destas regiões nos últimos 40 anos, a análise também mostrou um aumento nestes dois parâmetros quando levados em conta apenas os homens considerados férteis nos estudos averiguados.
“Neste caso, no entanto, os resultados podem ser reflexo do número limitado de estudos sobre o assunto nestas regiões”, diz Anderson Martino-Andrade, professor do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná e um dos coautores do estudo, do qual participou como pesquisador visitante na Escola Icahn de Medicina do Hospital Mount Sinai, em Nova York. “Não podemos descartar a possibilidade de que esse declínio esteja em curso também em outros países, incluindo o Brasil. Talvez estejamos diante de um fenômeno global, porém estudos adicionais são necessários, especialmente em países em desenvolvimento, que possuem poucas pesquisas sobre esse tema.”
Martino-Andrade explica que a motivação do levantamento, publicado ontem no periódico científico “Human Reproduction Update”, um dos mais importantes neste campo, veio justamente dos resultados de outra pesquisa publicada ainda em 1992 que apontou um grande declínio na contagem de espermatozoides na população masculina mundial. Apesar de muito criticado por outros cientistas pelo que foram consideradas por eles diversas falhas metodológicas, as indicações deste polêmico estudo deixaram a comunidade científica em alerta quanto ao futuro da saúde reprodutiva de homens em todo planeta.
“Diante disso, resolvemos verificar na literatura esta possível tendência de declínio na contagem de espermatozoides na população masculina mundial, que nosso estudo aponta ser bem real”, afirma.
O pesquisador brasileiro destaca ainda que, embora o formato do levantamento não permita identificar as causas deste fenômeno, como a queda é acentuada e recente fatores ambientais em diferentes estágios de vida, desde o desenvolvimento intrauterino à idade adulta, devem estar entre os principais suspeitos. Ele cita como exemplo a exposição a substâncias químicas que interferem com a ação ou a produção de hormônios, os chamados desreguladores endócrinos, particularmente quando ela acontece durante o período pré-natal.
“Aqui entramos no campo da especulação e várias causas podem ser sugeridas”, ressalta. “Mas, tendo em vista o rápido e contínuo declínio na contagem de espermatozoides, é possível especular que fatores ambientais, como tabagismo materno, a exposição a agentes químicos e outros fatores ligados ao estilo de vida estejam envolvidos.”
Coautora do estudo, Shanna Swan, professora da escola nova-iorquina, concorda: “A queda na contagem de espermatozoides tem sido uma grande preocupação desde que foi relatada pela primeira vez há 25 anos. Esse estudo mostra definitivamente, pela primeira vez, que este declínio é forte e contínuo. E o fato de o declínio estar sendo visto nos países ocidentais sugere fortemente que substâncias químicas no comércio têm um papel causal nesta tendência.” (AG)