Quinta-feira, 18 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 17 de janeiro de 2018
Ataques com artefatos incendiários a templos católicos e a três helicópteros de empresas florestais foram registrados na região de Araucanía, Sul do Chile, horas antes da visita do papa Francisco à área para celebrar uma missa nesta quarta-feira (17) em Temuco (800 km ao sul de Santiago). Um dos conflitos deixou um policial ferido a bala, informa a agência EFE citando a polícia.
Os ataques ocorreram durante a madrugada em áreas rurais da Araucanía. Segundo Bruno Villalobos, diretor da polícia chilena, os autores são desconhecidos “que querem causar desordem ou alteração da ordem pública” durante a visita do papa.
Temuco é o coração da terra dos mapuches, a etnia mais importante do Chile, que denuncia discriminação e abusos e reivindica a restituição de territórios ancestrais hoje em mãos privadas. Eles esperam essa oportunidade para dar visibilidade à sua causa.
Os ataques incendiários são frequentes na região de La Araucanía. Nos últimos anos, foram mais de 100 atentados contra maquinário florestal e templos religiosos.
Tensões
Depois da liturgia, Francisco se reuniu com um grupo de indígenas, cujas identidades ainda não foram reveladas pela organização do encontro. “O programa da visita do Santo Padre reflete sua preocupação com uma zona que viveu tensões importantes, com a qual quer compartilhar uma mensagem de paz e para onde busca levar palavras de esperança que possibilitem o encontro entre as pessoas”, disse recentemente o coordenador nacional da Comissão que organiza sua visita ao Chile, Fernando Ramos.
Antes da chegada dos conquistadores espanhóis no Chile, em 1541, os mapuches eram donos das terras que vão do rio Biobío a até cerca de 500 quilômetros mais ao sul. Após sucessivos processos, os índios dessa etnia, que representam 7% da população, foram forçados a viver em pouco mais de 5% de seus antigos domínios.
Sem canais de negociação abertos, espera-se que a visita do papa à zona possa servir para aproximar posições nesse conflito de longa data.
Missa
O papa Francisco dedicou nesta quarta-feira (17) a missa no aeródromo de Maquehue de Temuco, que serviu de local de detenção e violações dos direitos humanos durante a ditadura de Augusto
Pinochet (1973-1990), às vítimas do regime militar.
“Essa celebração a oferecemos a todos os que sofreram e morreram e a todos que carregam todos
os dias nos ombros o peso de tantas injustiças”, disse o pontífice em sua homilia da “Missa pela integração dos povos”. Logo depois, Francisco pediu um momento de silêncio por tanta “dor e tanta injustiça”.
Vinte e sete anos após o fim da ditadura, seu legado ainda perdura em vários setores da sociedade chilena. Mais de 3.200 pessoas foram vítimas do regime de Pinochet, entre mortos e desaparecidos.
Francisco também atacou o recurso à violência na luta pelo reconhecimento dos povo, na região de Araucanía, em plena tensão devido ao conflito mapuche. “É essencial reconhecer que uma cultura de reconhecimento mútuo não pode ser construída com base na violência e destruição que acaba por levar vidas humanas”, disse o pontífice antes de acrescentar que “você não pode pedir reconhecimento aniquilando o outro, porque isso só desperta mais violência e divisão”.