Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 15 de fevereiro de 2018
O Irã despejou bilhões de dólares e centenas de vidas para apoiar o governo do presidente Bashar al- Assad. Mas poderá ter dificuldades para recuperar seu investimento na Síria.
No papel, o governo iraniano e entidades ligadas à sua Guarda Revolucionária receberam garantias de grandes prêmios econômicos na Síria – um memorando de entendimento para dirigir uma operadora de telefone celular e um papel em uma de suas mais lucrativas minas de fosfato. Ele recebeu terras agrícolas e pretende abrir filiais de universidades.
Mas empresários e diplomatas sírios dizem que a implementação desses acordos foi retardada pelas autoridades do regime, mais interessadas em atrair empresas russas e chinesas e temerosas de que Teerã ambicione ampliar sua influência.
“Basta olhar para as telecoms – elas ainda têm só um memorando de entendimento. Faz mais de um ano e eles não conseguem assinar um acordo”, disse um empresário sírio. “Os iranianos não conseguiram nada em termos de lucros na Síria.”
Para amigos e inimigos igualmente, a República Islâmica é muitas vezes vista como um dos atores mais matreiros no Oriente Médio, espalhando sua influência com o desenvolvimento de redes de milícias da mesma mentalidade ideológica. Para o Irã, a Síria é uma parte crítica de seu “eixo de resistência”, que se estende pelo Iraque e a Síria e a seu representante regional mais poderoso, o Hizbullah, movimento xiita libanês, vizinho de Israel.
Sua presença crescente às portas de Israel é uma séria preocupação para Jerusalém e seus aliados ocidentais, especialmente Washington: as tensões cresceram drasticamente no último fim de semana, quando um jato israelense foi derrubado. Israel reagiu com sua mais extensa onda de ataques aéreos à Síria em muitos anos.
O Irã foi a primeira potência regional a ajudar Assad, e a única que aplicou um poder humano significativo atrás dele – mobilizando primeiro o Hizbullah, enviando tropas, apoiando a criação de paramilitares locais e trazendo milícias xiitas formadas por afegãos e iraquianos.
Apesar disso tudo, porém, alguns iranianos temem que os esforços para se beneficiar de recursos sírios e futuros contratos de reconstrução poderão ser prejudicados pelo maior apoiador internacional de Damasco, a Rússia. Sua intervenção militar em 2015 virou a guerra decisivamente a favor de Assad.
Reconstrução
Autoridades iranianas, russas e europeias advertem que é cedo demais para falar nas vantagens potenciais de uma hipotética reconstrução, cujo custo a ONU (Organização das Nações Unidas) avaliou em US$ 300 bilhões. A guerra entre Assad e os rebeldes que tentam derrubá-lo está em curso.
Mais importante, não está claro quem bancaria a reconstrução enquanto países ocidentais e do Golfo –que têm o dinheiro para tanto, mas apoiaram a oposição – ficam nas laterais. Algumas autoridades russas manifestam a mesma preocupação sobre limitar os investimentos iranianos quanto sobre bloquear o potencial reenvolvimento ocidental.