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Mundo A Justiça indiciou um cientista argentino acusado de favorecer uma mineradora

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Colegas de vários países iniciaram uma petição online a favor de Ricardo Villalba, que destaca a retidão pessoal e científica do pesquisador e o ridículo científico das acusações. (Foto: Reprodução)

Imagine um terreno de cem metros por cem metros coberto por neve ou gelo – você chamaria isso de geleira? Na Argentina, quem não usar esse nome corre o risco de ser declarado criminoso. A vítima da situação surreal é o glaciologista Ricardo Villalba. Ele se viu indiciado pelo juiz federal Sebastian Casanello sob a acusação de “abuso de autoridade”. Apelou da decisão e, se perder, será julgado criminalmente.

Suposto delito do pesquisador, ex-diretor do Instituto Argentino de Nevologia, Glaciologia e Ciências Ambientais (Ianigla): empregar no Inventário Nacional de Geleiras de seu país o limite mínimo de hectare (cem metros por cem metros, ou, dez mil metros quadrados).

O levantamento usa imagens de satélites. Embora alguns desses aparelhos tenham sensores para detectar do espaço superfícies menores que isso, o critério serve para evitar que se incluam áreas com neve ou gelo apenas temporário.
Faz sentido. Geleiras recebem proteção especial de uma lei aprovada em 2010, legislação que o próprio Villalba ajudou a aprovar.

O padrão adotado está de acordo com o que se pratica na comunidade internacional de glaciologistas. Na realidade, é um limite menor (mais rigoroso) do que o estipulado por outros pesquisadores.

Conforme o jornal Folha de S.Paulo, do alto de sua ignorância, ambientalistas da província de San Juan (oeste da Argentina) discordam. O grupo Asamblea Jáchal No Se Toca acusa Villalba de fixar o limite de um hectare para favorecer a mineradora de ouro canadense Barrick Gold.

A empresa opera na região a mina Veladero, perto da cidade de San José de Jáchal. Segundo os acusadores, Villalba deveria ter mapeado todas as geleiras, independentemente do tamanho, pois este não se encontra estabelecido em lei.

Pelo raciocínio tortuoso, a inclusão de pequenas manchas de gelo nas proximidades da mina teria forçado uma avaliação ambiental mais rigorosa do impacto da extração do ouro pela Barrick Gold. Com isso, haveria que avaliar a contaminação de corpos d’água com cianeto (usado para separação do metal precioso) e evitá-la.

Há algo de kafkiano em culpar um estudioso argentino de geleiras pela poluição de cianeto causada por uma empresa mineradora canadense. Nem nos Estados Unidos, onde grassa uma caça às bruxas contra pesquisadores do clima, os celerados da “alt-right” foram tão longe.

Contra Villalba se levantam nada menos que ambientalistas. Seria de esperar outra atitude de quem em geral se acha na mesma trincheira dos especialistas em glaciologia, que ganham importância crescente com a mudança do clima.

O pessoal da Asamblea Jáchal No Se Toca pelo visto inverteu a máxima ambientalista segundo a qual se deve pensar globalmente e agir localmente.

Ao que parece, estão atuando contra a esfera universalizante da ciência para alavancar embates locais que monopolizam sua atenção. Villalba não está sozinho, porém. Colegas de vários países iniciaram uma petição online em seu favor que destaca a retidão pessoal e científica do pesquisador e o ridículo científico das acusações.

O caso também chegou às páginas da revista científica “Nature”. Se Villalba terminar condenado, Jáchal No Se Toca é que será acusada por um crime de lesa-ciência. Precisam se tocar.

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https://www.osul.com.br/justica-indicia-cientista-argentino-acusado-de-favorecer-mineradora/ A Justiça indiciou um cientista argentino acusado de favorecer uma mineradora 2017-12-10
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