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Por Redação O Sul | 24 de junho de 2016
Ao pegar a ficha técnica do curta-metragem “Sunspring”, algum desavisado pode achar que se trata de apenas mais um filme esquecível de ficção científica. O diretor Oscar Sharp dirigiu apenas dois curtas; o produtor Ross Goodwin é um total desconhecido no meio; e o roteiro é assinado apenas por um misterioso Benjamin. Tudo muda de figura, porém, quando se descobre que o tal Benjamin é, na verdade, um computador. Baseada na Universidade de Nova York (EUA), a máquina escreveu todo o roteiro por meio de algoritmos e fez com que “Sunspring” se tornasse o primeiro filme completamente elaborado por inteligência artificial.
“Há alguns anos, fiz o roteiro de uma peça de teatro sem falas, usando apenas uma planilha”, conta o diretor do curta-metragem, Oscar Sharp. “Vi que a técnica era promissora e pensei que poderia usar a ideia em algo maior, como um filme. Aí, algum tempo depois, conheci o [especialista em inteligência artificial] Ross Goodwin, que topou na hora me ajudar a fazer um curta escrito pelo programa de algoritmos que ele elaborou.” A ideia de Sharp só se concretizou neste ano durante o Sci-Fi London, no Reino Unido, um festival de filmes de ficção científica. Em um dos desafios propostos, estava o de produzir um curta-metragem em apenas 48 horas. Goodwin e Sharp, então, resolveram contar com a ajuda de Benjamin – nome carinhoso dado ao programa de inteligência artificial LSTM – para facilitar a produção e testar o modelo.
“Tudo foi muito simples”, afirma Goodwin, que diz ter alimentado a máquina com mais de 200 roteiros. “Treinamos a rede de inteligência artificial da Universidade de Nova York durante toda a semana anterior e o texto de Sunspring ficou pronto em apenas alguns poucos minutos.” Segundo os dois realizadores – que divergem no significado da história –, “Sunspring” fala sobre três pessoas que vivem em um futuro não muito distante e em uma espécie de triângulo amoroso. “É um filme de ficção científica alternativo”, resume a sinopse do curta.
Após a elaboração do curioso roteiro por Benjamin – que não sofreu nenhuma alteração –, Sharp teve a chance de usar todas as 48 horas para gravar o filme, que contou com Thomas Middleditch (da série “Sillicon Valley”) no elenco. “Todos acharam divertido estarem gravando de acordo com o que um computador mandou”, destacou o diretor. “Benjamin deu até a entonação e o comportamento que os atores tinham que adotar.” O resultado, aparentemente, foi aprovado pelo festival, que considerou o curta-metragem um dos dez melhores produtos apresentados no desafio.
Qualidade questionada.
Entretanto, especialistas em cinema criticam a qualidade do curta-metragem por ter alguns diálogos soltos e situações sem conexão com o todo.
O sistema de inteligência artificial Benjamin não aprendeu a escrever roteiros sozinho. Antes de criar o texto de Sunspring, a máquina recebeu um intensivo treinamento de seu criador, Ross Goodwin. “Alimentamos o computador com centenas de roteiros”, conta o especialista em inteligência artificial. “Após isso, o sistema de algoritmos aprendeu um padrão dos filmes de ficção científica e conseguiu criar um texto que seguisse os mesmos padrões.” A lista de filmes que “inspiraram” Benjamin é surpreendente. Ela conta com alguns clássicos da ficção científica, como “2001– Uma Odisseia no Espaço”, “Blade Runner” e “E.T. – O Extraterrestre”. Entretanto, muitos filmes são desconhecidos ou foram duramente criticados por especialistas na época de seus lançamentos, como é o caso de “2012”, “Cowboys & Aliens”, “Eu Sou o Número Quatro” e o recente “Quarteto Fantástico”.
Segundo a dupla, com uma pluralidade de roteiros, o algoritmo conseguirá atender todos os gostos e necessidades de roteiristas, independente do gênero ou opinião da crítica. (AE)