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Brasil Mãe de Cazuza já ajudou a salvar 119 crianças com aids

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Lucinha Araújo comanda a Sociedade Viva Cazuza, que completa 25 anos. (Foto: Reprodução)

Lucinha Araújo sente saudade. Do sorriso do filho, Cazuza, dos braços de João Araújo, seu marido por 57 anos, único homem que beijou na vida. Pai e filho morreram no mesmo quarto, na cobertura de um edifício em Ipanema, no Rio, onde Lucinha morou quatro décadas. Desde a morte de João, o fundador da gravadora Som Livre, em novembro de 2013, era penoso dormir sozinha no duplex de 750 metros quadrados onde havia tantas lembranças, tanto passado empoeirado.

Aos 79 anos, Lucinha se mudou. Em janeiro, arrumou as malas e se instalou três andares abaixo, no mesmo prédio. Passou seis meses decorando a nova casa, que tem menos da metade do tamanho da anterior – mesmo assim, um espaço e tanto. As quatro telas de Leonilson, as duas de Gerchman, as canecas centenárias em forma de figuras humanas, tudo foi arrumado com esmero, do seu jeito. Da casa em Angra dos Reis, ela trouxe Ney Matogrosso, seu cão vira-lata de 16 anos, recolhido nas ruas de Copacabana.

Todos os dias, Lucinha bate ponto no casarão  onde fica a sede da Sociedade Viva Cazuza. (Foto: Reprodução)

Todos os dias, Lucinha bate ponto no casarão onde fica a sede da Sociedade Viva Cazuza. (Foto: Reprodução)

“Perdi as duas pessoas mais importantes da minha vida. Tenho dez stents, um marca-passo, já tirei um câncer de mama. Nunca fui mulher de ficar chorando em casa”, afirma.

Todos os dias, Lucinha bate ponto no casarão onde fica a sede da Sociedade Viva Cazuza. Em outubro, a ONG comemora 25 anos. No total, 119 crianças já passaram por lá. O projeto nasceu em um posto de saúde, onde funcionou durante dois anos, até o então prefeito Cesar Maia ceder o atual imóvel.

Atualmente, 22 meninos e meninas, todos nascidos com o vírus HIV, vivem em regime de internato, à espera de adoção. Além do trabalho com as crianças, encaminhadas pelo Juizado de Menores, a Sociedade Viva Cazuza apoia cerca de 200 adultos com cestas básicas, distribuídas toda quarta-feira. Nem sempre as contas fecham. Ano passado, o musical em homenagem ao cantor, morto em 1990, foi essencial para a casa se manter. Lucinha, não raro, tira dinheiro do bolso.

“Quando eu morrer, vai ficar tudo para a Sociedade. Tive condições de levar meu filho para se tratar em Boston [EUA]. Mas e quem não tem? O Brasil é um dos poucos países que fornecem gratuitamente medicação contra a aids, mas a situação das crianças é muito delicada”, afirma.

Lucinha com o filho. (Foto: Reprodução)

Lucinha com o filho. (Foto: Reprodução)

Salvação.

Fundar o projeto foi sua “tábua de salvação”, como ela mesma diz, após a morte de Cazuza. Agenor de Miranda Araújo Neto, nome de batismo do artista, era filho único. Lucinha tentou engravidar de novo por 18 anos, mas nunca conseguiu, nem com tratamento especializado. Quando a inseminação artificial se difundiu, o médico lhe falou do risco de uma gravidez aos 40. Desistiu.

Ela carrega no peito um coração triste, fruto das perdas para as quais ninguém está pronto. Diz para si mesma que nunca mais será feliz como antes. Sua busca é pelo que ela chama de “felicidade possível”. Vem em doses homeopáticas. O que ela gosta mesmo de fazer é viajar, e aí, sim, Lucinha se sente como uma menina. Nos últimos tempos, passou por Tailândia, Mianmar, Portugal, França, Suécia, Israel… No próximo mês, vai conhecer a África do Sul, antes de uma rápida visita ao Uruguai. As passagens de fim de ano já estão compradas: o Natal será em Roma; o Réveillon, na Ilha de Malta. Seu destino no último carnaval foi inédito: Salvador. Gostou tanto que comprou um apartamento na cidade. Costuma viajar com a amiga Marise, ou com um primo 35 anos mais novo. Ela se dá bem com os mais jovens. Diz que “adora tomar um porre, uma vez por semana”.

Nessas viagens, ela experimenta a sensação de se reinventar. Não faz questão de hotéis cinco estrelas, embora goste de “joias e conforto, dessas bobagens todas”. Lucinha não aparenta a idade. Sua vitalidade impressiona. Cheia de compromissos à frente da ONG, ela cuida dos direitos autorais da obra de Cazuza (“cobro tudo”, diz) e, atualmente, das homenagens pelos 25 anos de morte do cantor.

Sim, Lucinha respira Cazuza o tempo todo. Serginho, ex-namorado do filho, telefona quase diariamente. Ela diz sentir uma presença constante ao seu lado e acredita que, no dia em que morrer, irá reencontrá-lo. (AG)

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https://www.osul.com.br/mae-de-cazuza-ja-ajudou-a-salvar-119-criancas-com-aids/ Mãe de Cazuza já ajudou a salvar 119 crianças com aids 2015-09-19
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