Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 10 de março de 2016
A manobra para tentar evitar o processo de cassação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), envolveu até a falsificação de uma assinatura. Dois especialistas, técnicos em grafotecnia disseram que a renúncia do deputado Vinícius Gurgel (PR-AP) do Conselho de Ética, na sessão que aprovou a abertura de investigação contra Cunha, foi forjada. Segundo eles, a falsificação é “grosseira” e “primária”.
Aliado e voto declarado a favor de Cunha, Gurgel não estava em Brasília no dia 1 deste mês, quando o Conselho de Ética decidiu investigar se o peemedebista ocultou contas bancárias secretas na Suíça e se ele mentiu sobre a existência delas em depoimento à CPI da Petrobras. Para evitar que o suplente de Gurgel, um deputado do PT e contrário a Cunha, votasse, era preciso que Gurgel renunciasse.
A fim de atrasar a votação no Conselho até que a renúncia chegasse, Cunha esticou a sessão. Uma cópia da carta de renúncia de Gurgel e três assinaturas do deputado foram encaminhadas à perícia. O Instituto Del Picchia emitiu laudo afirmando que a assinatura da carta tem características peculiares às falsificações produzidas por processo de imitação lenta, quais seja, imitação servil ou decalque”, com “inequívocos índices primários das falsificações gráficas”.
Os peritos Maria Regina Hellmeister e Orlando Garcia – que integrou, oficialmente, a CPI que investigou o esquema PC Farias, em 1990 – afirmam que os exames comparativos mostram variados antagonistas gráficos, que levam à conclusão de que a assinatura é “produto de falsificação grosseira”.
Ao jornal, o deputado Vinícius Gurgel disse que a falsificação apontada pode decorrer de uma ressaca. “Se eu assinei com pressa, se eu tava [de] porre, se eu tava de ressaca, se eu assinei com letra diferente, não vou ficar me batendo por isso”, afirmou. “Não tô, assim, justificando nem tirando a coisa. Eu bebo. Podia estar de ressaca. Quando a pessoa está de ressaca, não escreve do mesmo jeito, fica tremendo, acho que tinha bebido um dia antes, assinei com pressa no aeroporto, pode não ter sido igual, rabisquei lá”.
O deputado também disse que informou ao PR por telefone sua intenção de renúncia e que deixou diversas cartas de renúncia assinadas em seu gabinete. Sobre isso, ele justificou que era para impedir que o suplente do PT assumisse e votasse contra Cunha.
Já Maurício Quintella Lessa afirmou que recebeu a carta da assessoria de Gurgel e negou interferência de Cunha.