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Por Redação O Sul | 9 de maio de 2016
Não são poucos os indícios de que, antes causadoras de pânico, as DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), hoje, parecem não assustar. O sinal disso é que o uso de preservativos, principal forma de evitar essas infecções, é cada vez menos popular: mais da metade da população sexualmente ativa admite não usar camisinha, mesmo que 95% reconheçam sua eficácia. Como consequência, a transmissão de hepatite B na população brasileira cresceu 74% desde 2004, e a transmissão de HIV na faixa de 15 a 19 anos cresceu 53% na última década.
Enquanto isso, o estoque da vacina contra o HPV (papilomavírus humano) – um dos principais causadores de câncer de colo do útero –, oferecida pela rede pública a meninas de 9 a 13 anos, está sobrando nos postos. A imunização só atingiu 44,23% dessas jovens neste ano, índice bem longe da meta de 80%. E há, ainda, a assustadora epidemia de sífilis, que assola muitas capitais brasileiras.
“Perdemos o medo das DSTs. A aids, por exemplo, passou de uma doença que levava à morte para uma doença crônica, tratável. Os jovens de hoje não chegaram a ver seus ídolos morrendo por causa dela”, avalia o infectologista Alberto Chebabo. Se, por um lado, a perda do medo dessas doenças é positiva, pois tira o estigma de quem tem uma DST, por outro é usada como justificativa para deixar a camisinha de lado. “O mais complexo na medicina é convencer o ser humano a mudar de comportamento”, avalia o cardiologista Cláudio Domênico. “Para muitos males, como sífilis, HIV e gonorreia, não há sequer vacinas. Então, a melhor saída é usar preservativo. Prevenir é sempre melhor do que remediar.”
Nos últimos dois anos, o Brasil conheceu uma nova forma de prevenção com a vacina quadrivalente do HPV, que protege contra os sorotipos 6, 11, 16 e 18. Os dois primeiros são responsáveis por 90% dos casos de verrugas genitais, enquanto os dois últimos causam 70% das ocorrências de câncer de colo do útero. O esforço federal de vacinação tem a meta de frear as estimativas do Inca (Instituto Nacional do Câncer), que prevê o surgimento de 16 mil novos casos de tumor de colo do útero em 2016, e 5,4 mil mortes pela doença. “O HPV, ao lado da herpes genital, é a virose sexual transmitida com maior frequência. E o ápice da transmissão é abaixo dos 25 anos”, descreveu a ginecologista Cláudia Jacyntho. “É preciso lembrar que o HPV, sozinho, não causa câncer. A maioria das mulheres entra em contato com ele, mas desenvolve imunidade natural. Para chegar a ter câncer, são necessários outros fatores, como tabagismo e baixa imunidade.”
O avanço da sífilis.
Muitas dessas doenças só têm sintomas quando já estão em estágio avançado. A sífilis, por exemplo, pode levar a problemas cardíacos, meningite e à loucura. Se contraída por grávidas, pode causar malformações nos bebês. De 2008 a 2013, o número de grávidas infectadas no Brasil saltou de menos de 10 mil para 21.382 – 7,4 casos para cada mil nascidos vivos. No ano seguinte, eram mais de 25 mil novos casos. “A sífilis só começa a dar sinais visíveis nas mulheres quando está na fase secundária”, explicou Chebabo.
“Se a doença chegar à fase terciária, ameaça causar, anos depois, problemas como demência e malformação na aorta, a principal artéria do corpo.” Outras doenças transmitidas por sexo são mais comuns do que se pode pensar. A clamídia, por exemplo, afeta 1,9 milhão de pessoas a cada ano no País e a gonorreia, 1,5 milhão, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde. (AG)