Brasil Menino achado em cela diz que já dormiu antes em presídio

Jovem foi encontrado embaixo do estrado da cama de detento. (Foto: Sinpoljuspi/Divulgação)

Encontrado debaixo da cama de um detento no presídio Colônia Agrícola Major César Oliveira, em Altos, no Piauí, o adolescente de 13 anos relatou à Polícia Civil que já havia dormido na unidade prisional antes. Segundo o jovem, ele passou a noite na cadeia acompanhado da família. No último domingo (1º), seu pai insistiu que pernoitasse com o amigo e ex-companheiro de cela, José de Ribamar Pereira Lima, de 52 anos, condenado por estupro de vulnerável. Seria a primeira vez que o jovem ficaria sozinho com Ribamar.

A Secretaria de Justiça do Piauí informou que apenas presos e servidores podem dormir nos estabelecimentos penais e que abriu uma investigação sobre o episódio. O pai do jovem, Gilmar Francisco Gomes, já havia cumprido pena na unidade pelo estupro de uma menina de 12 anos, em 2012. Foi assim que surgiu a amizade com José de Ribamar. Em depoimento à polícia, o adolescente confirmou que visitava o pai na cadeia e que conheceu Ribamar numa dessas ocasiões.

De acordo com o relato, ele e o irmão mais novo, de 8 anos, eram levados ao local pela mãe. Já no último sábado, foram ao presídio com a mãe, outros dois irmãos e o próprio pai, que foi solto neste ano. Durante o dia, o responsável trabalhou no cultivo do presídio com José de Ribamar, enquanto a mãe preparava o almoço.

Ribamar, que cumpre pena em regime semiaberto, costumava dar sandálias, chinelos, biscoitos às crianças e ajudava o pai do jovem com alimentos, segundo depoimentos do adolescente, da mãe e do próprio detento.

Ele contou que, nas visitas, “todos ficavam juntos”. No entanto, desta vez o pai teria feito um pedido a ele na hora de ir embora: dormir na cadeia com Ribamar “para não dar trabalho de levá-lo (ao presídio) no dia seguinte”. O jovem se negou, mas o pai esteve “irredutível”, segundo o depoimento. Aos investigadores, o responsável destacou que o filho havia pedido para ficar, versão negada pela mãe.

Gilmar Gomes teria feito o mesmo pedido para o irmão mais novo, que insistiu em ir embora. À noite, o adolescente recordou que viu TV com Ribamar e, depois, com sono, deitou-se na cama de solteiro, junto ao detento. O adolescente nega que tenha sido tocado ou sofrido abuso sexual. Afirma também que o preso o acordou de madrugada para se esconder dos agentes, que realizavam vistoria na unidade.

PRESO POR “MATAR MULHER”

Segundo o jovem, Ribamar sempre o tratou bem. Ele ressalta que não sabia que o amigo da família cumpria pena por abusar de crianças, e sim, por matar a mulher, como teria dito aos amigos. Em reunião, nesta quarta-feira (4), autoridades concordaram em criar dois grupos de trabalho. Um para analisar a segurança do presidio e outro para aperfeiçoar as regras de entrada e permanência de crianças e adolescentes nas unidades prisionais. O secretário de Justiça pediu o registro das providências da gerência do Major César para garantir a segurança de detentos e visitantes.

O delegado responsável pela investigação, Jarbas Lima, afirma que tanto a mãe, Sebastiana Gomes, quanto o pai, Gilmar Gomes, cometeram crimes: submeter o jovem a ato vexatório e abandono de incapaz. Eles responderão pelas duas ocorrências.

“Ocorreram dois crimes dos pais. O artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (fala em) submeter o jovem a algum ato vexatório e abandono de incapaz. Como vai deixar o filho em um lugar insalubre e perigoso? Os pais vão ser responsabilizados por isso”, explica ele, que pondera se pedirá ou não a prisão preventiva dos dois. “A família é pobre, o pai é o provedor. Seria solucionar o problema e criar outro”, avaliou.

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