Sábado, 20 de abril de 2024

Porto Alegre

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Mundo Mesmo após denúncias, o médico condenado pelo assédio sexual de 265 meninas foi mantido em uma universidade por 25 anos sem ser incomodado

Compartilhe esta notícia:

Larry Nassar abusou durante décadas de ginastas da seleção dos EUA. (Foto: Reprodução)

Nos corredores das instalações usadas por ginastas no câmpus da Michigan State University, os ecos do maior escândalo do esporte norte-americano continuam a ecoar. Nem os cadeados nos armários nem as manobras da cúpula da universidade parecem abafar o que aconteceu. Ali, nas salas do Jeninson Field House, trabalhou por 25 anos o médico do time olímpico dos EUA, Larry Nassar, até então considerado um “mágico” na recuperação de atletas – agora condenado à prisão por assediar ginastas do time do país por mais de 20 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

“Eu o denunciei por assédio sexual há 20 anos e nada foi feito”, disse uma dessas vítimas, Larissa Boyce. Para ela, os crimes de Nassar envolvendo 265 meninas não poderiam ter ocorrido por tantos anos sem a cumplicidade de outras pessoas, inclusive dentro de sua universidade. O caso que eclodiu em 2017 revelou como algumas das maiores estrelas da ginástica foram alvos de assédio por parte do médico.

Ele foi condenado no início do ano. Desde então, uma dezena de autoridades esportivas e acadêmicas foram obrigadas a deixar seus cargos. Entre elas está Scott Blackmun, CEO do Comitê Olímpico americano.

Nos corredores por onde o médico trabalhava, a certeza é de que o número de esportistas vítimas de Nassar vai além das estrelas e que seus cúmplices conseguiram evitar punição. Há duas semanas, Jacob Moore passou a ser o primeiro atleta masculino a denunciá-lo.

Larissa conta que em 1997 estava na equipe juvenil de ginastas da MSU (Universidade do Estado de Michigan, na sigla em inglês) e que tudo o que ocorreu durante 20 anos poderia ter sido evitado se autoridades a tivessem escutado. A garota que hoje é mãe de quatro meninos explicou que saiu de uma consulta com Nassar e foi diretamente relatar o que tinha ocorrido à sua treinadora, Kathie Klages, que levou um susto com sua narrativa. “Minha treinadora me disse que aquilo era um absurdo, que Larry era um médico reconhecido e que eu deveria pedir desculpas a ele.”

Tudo está muito vivo em sua mente. “Disseram que eu iria criar problemas para o Larry e para mim mesma. Então me convenci de que eu era o problema, que tinha uma mente pervertida. Eu me desculpei.”

Passados 20 anos, Larissa sabe hoje que o problema não era ela. “O problema é que ele continuou a abusar de mim por mais dois anos. Eu tinha 16 e os adultos não acreditaram em mim. Hoje, tive de passar por um processo de me desculpar a mim mesma por não ter ido adiante com as denúncias”, comentou.

Larissa faz um alerta. Diz que a história ainda não acabou. “O que ainda precisa ser determinado é como uma pessoa como essa foi autorizada a permanecer tantos anos em uma função tão central no esporte.” Ela e outras duas vítimas contaram que, hoje, toda atenção está voltada à direção da Universidade de Michigan, que manteve Nassar por anos e o recomendou para servir as ginastas dos EUA em Jogos Olímpicos.

Entre a comunidade da cidade de East Lansing, o sentimento é de consternação e preocupações financeiras. Nos meses que se seguiram à condenação do médico, a universidade registrou queda de 40% em doadores, um dos pilares centrais do orçamento da instituição que investe a cada ano cerca de US$ 120 milhões (R$ 390 milhões) nos esportes. O local que foi o berço esportivo de Magic Johnson, da NBA, hoje é alvo de protestos e de enfrentamento aberto entre estudantes, esportivas e a direção da universidade.

A presidente da MSU, Lou Anna Simon, abandonou seu cargo e, em carta aberta, admitiu que “nunca poderá se desculpar de forma suficiente” por causa da presença de Nassar dentro do câmpus. Ela, porém, é acusada de ter arquivado um processo contra o médico em 2014 e não ter repassado as reclamações de estudantes para a polícia.

O temor não é apenas com a perda de doadores. Mas diante da possibilidade de uma proliferação de processos legais que poderiam custar caro aos cofres da universidade. Há poucos anos, a descoberta de assédio por parte de um treinador da Penn State levou a instituição a ter de pagar US$ 250 milhões (R$ 813 milhões) em indenizações para as vítimas.

Entre os alunos que conversaram com O Estado de S. Paulo, o sentimento é de indignação diante do comportamento da direção. “Esperar que a universidade faça algo sozinha não é uma realidade”, disse Morgan McCaul, também vítima de Nassar. “Pessoas aqui dentro o inocentaram e criaram o ambiente para que ele pudesse continuar a agir”. Procurada, a MSU se limitou a dizer que está colaborando com as investigações.

Jessica Smith, assediada na universidade, pontua que a nova etapa do processo é a de saber quem foram os responsáveis por permitir que Nassar mantivesse acesso a tantas meninas por tantos anos. “O que impressiona é que, depois de tudo o que já sabemos, temos ainda de lutar”, disse. Ela revelou ainda ter pesadelos. “Ele abusou de minha confiança e de meu corpo”.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Mundo

Homem que flagrou a esposa no motel pegou a arma do pai sem que ele soubesse
Após visita de William e Kate na Índia, caçadores invadem parque e matam rinoceronte
https://www.osul.com.br/mesmo-apos-denuncias-o-medico-condenado-pelo-assedio-sexual-de-265-meninas-foi-mantido-em-uma-universidade-por-25-anos-sem-ser-incomodado/ Mesmo após denúncias, o médico condenado pelo assédio sexual de 265 meninas foi mantido em uma universidade por 25 anos sem ser incomodado 2018-03-11
Deixe seu comentário
Pode te interessar