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Colunistas “MILAGRE” (COM UM POUCO DE FICÇÃO)

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O povo, lamentavelmente omisso, descrente ou desiludido tem ao seu dispor o voto, com o qual pode dar a melhor sentença (Foto: Fábio Motta/AE)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Recém chegara à Câmara, quando o líder da bancada, me chamou. Comunicou-me que eu seria vice-líder. Ficaria responsável pela sessão das quartas-feiras, a das votações mais polêmicas. À época, na prática, o sistema era bipartidário. O MDB era oposição e o PDS, a situação. Os vice-líderes adversários sentavam na primeira cadeira da primeira fila.

O vice-líder da oposição (um deputado novo, nortista) com quem – por dever de ofício – já na primeira semana debati. Precisávamos marcar posições ante o adversário e mobilizar as bancadas. E assim aconteceu. Depois de 4 semanas de atuação, deixara de ser um noviço intimidado.

Na quinta quarta-feira, finda a sessão, tomava um cafezinho, no bar vazio. De repente, chega meu adversário e, constrangido, disse-me que ficara com dividas da campanha e que, dentro de 2 dias, tinha de pagar um valor (que, na época, significava 30% do subsidio mensal) e que não tinha o dinheiro.

Disse que não pediria ao pessoal do Partido porque logo se espalharia a sua situação “pré falimentar” e ficaria numa situação constrangedora perante seus correligionários.

Por isso, se atrevera a pedir-me um empréstimo, garantindo que, no fim do mês, quando receberíamos os nossos subsídios, ele me pagaria.

Fiquei desconfortável (ele, não), mas passado o “susto” disse-lhe que, no dia seguinte, o dinheiro estaria na sua conta. Fiz isso com dor no coração. Cheio de dúvidas. Pediu-me que não contasse a ninguém, coisa que eu não faria de jeito nenhum já que, se ele não pagasse, a “voz do corredor” diria que eu caíra no conto do nortista picareta”.

No entanto, pagou-me (sem juros), levando-me a repetir, a seu pedido, a “transação bipartidária” nos dois ou três meses seguinte.

DOZE ANOS DEPOIS

Eu era Ministro da Educação e numa visita de serviço ao Estado nortista, do qual era Governador (continuávamos em partidos opostos), o ex-deputado surpreendeu-me.

Ao pé do avião, estavam o Governador, um pelotão da Polícia Militar perfilado e a banda. Em companhia dele passei em revista a tropa – meio sem jeito – ao som do hino do Estado.Fomos ao Palácio e realizamos a cerimônia oficial.

Apressei-me a sair (tinha compromisso em Tocantins), quando o Coronel da FAB que pilotava o jatinho, me comunicou que o avião sofrera uma “pane seca”. Disse-me que iriam substituir uma peça e que, por isso, o atraso seria de uma hora e meia.

Orientei um assessor que avisasse o Governo do Tocantins do que estava ocorrendo e que o Governador de la decidisse se manteríamos o programa, mesmo atrasado.

Foi quando o Governador anfitrião, me disse: “ o Senhor vai chegar la na hora programada”. Achei que era brincadeira. Ele tornou a falar enfático: “tenho o avião para leva-lo”.

Lembrando das penúrias do Governo gaúcho (tinha aqui um avião Navajo a hélice), agradeci etc e tal. Notando que a minha rejeição era por questões de segurança, encheu o peito e comunicou: “são dois jatinhos a sua disposição.

Impactado, eu só soube dizer: “que bom que o seu Estado seja tão rico!” Resposta de Sua Excelência: “do Estado não, de minha propriedade. Preciso estar equipado porque tenho que administrar um jornal, um canal de TV, duas fazendas, várias emissoras de rádio, além do Estado”. Foi ai que o Coronel salvou-me, avisando que já haviam reparado o jatinho, pronto para decolar.

Despedi-me do ultramilionário Governador e fiquei pensando: nos 12 anos que mediavam entre o pedido de empréstimo de antes e a riqueza de agora do político. Ele não ganhara na Loteria, e não recebera heranças. Vivera de contracheques oficiais. Sendo de família pobre, era evidente que a “vantagem” era outra, bem fácil de presumir.

Por isso, agora, quando se faz uma grande limpeza com a “Lava Jato” é fácil identificar quem se apoderou criminosamente de dinheiro público. Não dá para acreditar que, com ganho de ministro, deputado ou senador alguém, de classe média, vire um nababo. Os repentinos “milionários” da política são suspeitos. É só prestar atenção, permitindo que se separe o joio do trigo.

PS: Aliás, ha meia dúzia de anos, a dita cuja personagem (o ex-Governador) envolveu-se em tanta “mutreta”, que acabou detido, aparecendo algemado no Jornal Nacional etc etc mas logo foi liberado e, continuou solto. Depois de tudo isso, concorreu ao Senado e obteve a maior votação de um candidato na História do seu Estado.

O povo, lamentavelmente omisso, descrente ou desiludido tem ao seu dispor o voto, com o qual pode dar a melhor sentença. Só ele, povo, sem armas e sem atropelos, pode julgar – e condenar – com seu pleno poder. Cada vez que ocorre algo assim, relembro a lição de Jefferson “muitas pessoas temem pelo seu futuro; um político sério não teme pelo seu passado”.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/milagre-com-um-pouco-de-ficcao-3/ “MILAGRE” (COM UM POUCO DE FICÇÃO) 2016-04-29
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