Terça-feira, 23 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 2 de dezembro de 2018
Aos 77 anos, Ney Matogrosso passou a vida e a carreira a limpo em Vira-lata de Raça – Memórias, livro organizado com o jornalista Ramon Nunes Mello no qual ele não economizou nas lembranças, mesmo as mais doídas. Estão lá a difícil relação com o pai, um militar linha-dura que rejeitava o filho; a trajetória na carreira artística e a entrada no Secos & Molhados; a descoberta da sexualidade e alguns amores, como o vivido com Cazuza. Também está na obra a vida política, que nunca foi partidária, com direito inclusive, ao voto nulo. “Se chego lá e não tem ninguém que me satisfaça minimamente, por que vou votar?”, questiona Ney.
O cantor garante não ter arrependimentos e que todos seus segredos já foram contados. “Tudo que me perguntam eu respondo. Sempre”, diz ele, afirmando sem titubear que não sofre preconceito, mas que isso pode mudar. “Não tenho medo do futuro, não tenho medo de nada. Não vou ser âncora de medo por causa de ninguém”, diz, em referência às mudanças políticas no país.
São elas que fazem com que Ney acredite que é importante contar o passado. “As pessoas têm que saber disso: não podia se sentar em um banco na praia. Eu fui preso por vadiagem porque eu não tinha uma carteira de trabalho assinada”, lembra ele, que se dedica também à sua nova turnê, Bloco na Rua, sobre os tempos da ditadura.
Ensaiando até o dia 22 de dezembro e caindo na estada em janeiro, o cantor lamenta estar sem tempo para escutar música – Ney não aderiu aos serviços de streaming e prefere o velho e bom CD. “Gosto de ler a letra, de ver as fotos”, explica ele, que ouve inclusive novos artistas como Anitta e Pabllo Vittar. “Eles estão em toda parte, então eu ouço. Mas eu não compro, né? Não preciso ter um disco”, diz.