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Por Redação O Sul | 16 de maio de 2019
Negociadores do Mercosul nas tratativas por um acordo de livre comércio com a União Europeia estimam que a etapa final para a assinatura da parceria poderá ocorrer no final de junho deste ano. Em condição reservada, fontes do governo brasileiro familiarizadas com a articulação afirmam que houve um avanço substancial nas conversas com os representantes europeus nas últimas semanas.
Um pré-acordo entre as partes deve ser firmado nos próximos dias. Uma vez concluída esta etapa da negociação, ministros de todos os países envolvidos serão chamados para avaliar os termos propostos. A reunião é chamada de “end game” e deve consumir dias de negociação. Caso o texto seja assinado, os Legislativos de cada país terão de chancelá-lo.
As negociações avançaram em função de dois fatores. O primeiro são as eleições para o Parlamento Europeu, que ocorrerão entre os dias 23 e 26 deste mês. A depender do resultado, a nova configuração da Casa poderia emperrar a conclusão das tratativas para 2021, penúltimo ano do governo Jair Bolsonaro. Além disso, a disparada da ex-presidente Cristina Kirchner nas pesquisas eleitorais para a eleição presidencial da Argentina acenderam o sinal de alerta entre os negociadores. Os blocos querem acelerar a assinatura do acordo para impedir que Kirchner, se eleita, atue para derrubá-lo.
Há ainda entraves que só serão definidos no “end game”, entre eles as negociações referentes à carne bovina – de interesse do Mercosul – e aos vinhos, uma prioridade para os europeus.
Apesar dos obstáculos, o Mercosul entende que as questões serão facilmente superadas. A previsão é a de que o processo de aprovação nos Legislativos dure três anos. A partir daí, a implementação total do acordo ocorreria num prazo de 15 anos.
Setor de carne francês protesta contra possível acordo com Mercosul
O setor de carne na França, dos criadores de gado até os açougueiros, expressou recentemente sua preocupação em uma carta aberta à Comissão Europeia diante da possibilidade de Bruxelas chegar a um acordo comercial com os quatro países do Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
“Como não estar inquietos quando a Comissão europeia parece mais decidida a alcançar um acordo com o Mercosul ou a retomar as negociações comerciais com os Estados Unidos – o que significa oferecer a nossos cidadãos cada vez mais carne que não cumpre as normas ambientais, sanitárias e de bem-estar que impomos a nós mesmos -, que a proteger a saúde dos consumidores e a sustentabilidade de nossas atividades?”, questionou o presidente da Interbev (Interprofissional da Carne), Dominique Langlois.
Ele ainda demonstrou preocupação com os sinais “negativos e contraditórios” enviados pela Europa acerca da soberania alimentar do continente e da luta contra o aquecimento global.
“Embora devesse oferecer a seus setores os meios para produzir, processar e comercializar localmente”, a Europa “prefere submeter” os produtores e processadores a uma “concorrência internacional desleal, com grandes volumes de carne que não cumpre nenhuma norma”, acrescenta Langlois.
Além disso, ele critica a “estigmatização da carne vermelha”, enquanto o setor pecuário francês “se comprometeu” em favor de “comer melhor”.
Sobre um possível acordo entre a UE e o Mercosul, o secretário do Comércio Exterior do Brasil, Lucas Ferraz, disse à agência Bloomberg em 8 de maio que um acordo comercial “nunca esteve tão próximo”. “Fizemos mais progressos em quatro meses do que em 20 anos”, garantiu.