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Por Redação O Sul | 9 de dezembro de 2017
Os venezuelanos votam neste domingo em uma eleição municipal de âmbito nacional que será boicotada pelos principais partidos da oposição, o que deve ajudar o presidente Nicolás Maduro a consolidar seu poder antes de uma provável tentativa de reeleição em 2018.
Segundo analistas citados pelas agências Reuters e France Presse, parece certo que os socialistas repetirão o feito das eleições estaduais de outubro, quando venceram em 18 de 23 estados. Dos 335 municípios que elegerão prefeitos por quatro anos, atualmente a situação governa 242 e a oposição 76. Os demais são administrados por dissidentes ou independentes.
Os três grupos opositores que fazem parte da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) – que são Primeiro Justiça, Vontade Popular e Ação Democrática – se negaram a participar por “falta de garantias”. Eles alegam que o sistema eleitoral é distorcido e concebido puramente para manter uma “ditadura” no poder. No entanto, outras organizações e dirigentes opositores competem por conta própria.
“A ausência dos principais partidos e a pressão da máquina chavista inviabilizam que a oposição possa manter sequer a metade das prefeituras que controla”, disse à AFP Eugenio Martínez, especialista eleitoral. Ao contrário, o governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) “melhorará suas cotas de poder”, acrescenta.
“É loucura não participar”, disse o analista político Dimitris Pantoulas à Reuters. “O governo muito provavelmente terá um dos melhores resultados de sua história. Maduro ficará muito forte depois desta eleição. O momento político é dele”.
Segundo o vice-presidente Tareck El Aissami, Maduro buscará a reeleição apesar da baixa aprovação de 20%.
Sem clima eleitoral
No contexto de uma crise econômica que se aprofunda com uma inflação desgovernada, o ceticismo prevalece e em cidades como Caracas, Maracaibo e San Cristóbal não há clima de campanha.
“Não vou votar porque não acredito na transparência do CNE (Conselho Nacional Eleitoral)”, disse à AFP Nerver Huerta, designer gráfico de 38 anos.
Aqueles que se negam a ir às urnas chamam de “fraudulentas” as eleições de 15 de outubro, quando foram feitas denúncias de mudanças de centros de votação em cima da hora e adulteração de atas e clientelismo. Os resultados não foram reconhecidos pela oposição e foram questionados pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Divisões na oposição
A derrota opositora nas eleições de governadores – com alta abstenção de seus partidários- acentuou as divisões na MUD.
Dirigentes como Capriles deixaram a coalizão quando quatro governadores eleitos pelo partido de Ramos Allup se juramentaram ante a Assembleia Constituinte chavista que rege com poderes absolutos.
Essa instância, que a MUD e vários governos não reconhecem, exigia aos ganhadores subordinar-se à sua autoridade, requisito que também terão prefeitos.
Por se negar, a eleição de um candidato de Capriles foi anulada.
‘Cenário demolidor’
“Não são eleições, mas adjudicações”, disse à AFP a ex-deputada María Corina Machado, que afirma que votar é reconhecer a Constituinte e uma “traição” depois da morte de 125 pessoas durante protestos contra Maduro entre abril e julho.
“Tentarão roubar o voto, mas não vamos nos entregar”, justificou à AFP Yon Goicoechea, candidato à prefeitura de um município de Caracas, contrariando o partido de López, que abandonou a disputa para unir-se a outra organização. Para Goicoechea, é preciso “defender os espaços” da oposição.
O analista Luis Vicente León adverte sobre um “cenário demolidor” para a oposição, pois “nem haverá uma abstenção maciça” que deslegitime o processo, “nem um triunfo relevante” de quem decidir competir.
Problemas no chavismo
O caminha livre de oponentes acontece após Maduro resistir a enormes protestos de rua, sanções internacionais e uma dissidência dentro da própria sigla governista.
O chavismo também tem seus próprios problemas internos e se vê numa cruzada anticorrupção na petroleira PDVSA. Um escândalo que forçou a renúncia do seu ex-CEO Rafael Ramírez como embaixador ante a ONU a pedido do presidente.
“Apesar de tudo, o presidente tem me ajudado, não posso ser mal agradecido. Votarei no domingo, e se tiver que reelegê-lo, estarei aí”, declarou à AFP William Lugo, de 65 anos, enquanto contabilizava o pagamento de um bônus de Natal que o governo está dando a quatro milhões de pessoas.