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Por Redação O Sul | 24 de outubro de 2018
O presidente chinês, Xi Jinping, inaugurou oficialmente a maior ponte de travessia marítima do mundo, nove anos após o início da construção e em meio a críticas de que o projeto – concebido para impulsionar o crescimento econômico – não passa de um “elefante branco” e de que causou “sérios danos” à vida marinha em seu entorno, além de mortes de trabalhadores. A gigantesca construção liga Hong Kong, Macau e a China continental, em um momento em que Pequim aumenta seu domínio sobre a antiga colônia britânica.
Incluindo as estradas de acesso, a ponte abrange 55 km e liga Hong Kong a Macau e à cidade chinesa de Zhuhai. A estrutura custou cerca de US$ 20 bilhões (o equivalente a R$ 73,7 bilhões) e registrou vários atrasos no cronograma. Seu prazo inicial de conclusão era o ano 2016, que acabou postergado devido à escassez de mão de obra e de materiais de construção. A obra também foi marcada por problemas em questões de segurança – pelo menos 18 trabalhadores morreram em serviço.
Xi participou da cerimônia de inauguração, que aconteceu nesta terça-feira em Zhuhai, junto com os líderes de Hong Kong e Macau. A ponte será aberta ao tráfego regular na quarta-feira.
O que há de tão especial nessa ponte?
A travessia conecta as três principais cidades costeiras no Sul da China – Hong Kong, Macau e Zhuhai. A ponte, projetada para resistir a terremotos e tufões, foi construída usando 400 mil toneladas de aço, o suficiente para erguer 60 torres Eiffel.
Cerca de 30 km do seu comprimento total atravessa o mar do delta do Rio das Pérolas. Para permitir a passagem de navios, uma seção de 6,7 km no meio mergulha em um túnel submarino que passa entre duas ilhas artificiais. As seções restantes são estradas de ligação, viadutos e túneis terrestres que conectam Zhuhai e Hong Kong à ponte principal.
Por que ela foi construída?
A ponte faz parte do plano da China de criar uma Grande Área de Baía, incluindo Hong Kong, Macau e outras nove cidades no sul da China – na esperança de competir com as de São Francisco, Nova York e Tóquio. A área é atualmente habitada por 68 milhões de pessoas. E a expectativa é transformá-la em uma zona econômica com ênfase em tecnologia, como uma espécie de concorrente ao Vale do Silício dos Estados Unidos.
As indústrias de logística e turismo também esperam um grande crescimento na esteira do projeto. A expectativa é por uma melhor integração entre essas áreas, mas não só isso. A redução do tempo de viagem que ela proporcionará entre Zhuhai e Hong Kong é apontada como um dos ganhos: a expectativa é de que o percurso, antes feito em até quatro horas, seja concluído em 30 minutos.
Travessia
Qualquer um pode atravessar a ponte? Não. Aqueles que querem atravessar a ponte devem obter licenças especiais, distribuídas por um sistema de cotas. E todos os veículos pagam um pedágio.A ponte não é atendida por transporte público, mas ônibus privados farão o percurso. Não há ligação ferroviária.
Autoridades inicialmente estimaram que 9,2 mil veículos atravessariam a estrutura todos os dias. Posteriormente, depois que novas redes de transporte foram criadas na região, eles reduziram suas estimativas. Dirigir ao longo da estrutura promete ser um desafio: em Hong Kong e em Macau, as pessoas dirigem à esquerda, como no Reino Unido, mas o resto da China dirige à direita, tal como na Europa continental e nos EUA.
Críticas
O projeto tem sido alvo de muitas críticas. A ponte foi apelidada de “ponte da morte” pela mídia local. Pelo menos nove trabalhadores do lado de Hong Kong morreram, e autoridades disseram que outros nove também morreram no continente – atingidos por máquinas ou após despencarem no mar. Centenas de trabalhadores chegaram a sofrer acidentes e a ficarem feridos durante a obra.
Também houve problemas relacionados ao impacto ambiental. Grupos ambientalistas dizem que o projeto pode ter causado sérios danos à vida marinha na área, incluindo ao golfinho branco chinês, espécie considerada “criticamente rara” e “vulnerável”.
A quantidade desses golfinhos vista nas águas de Hong Kong caiu de 148 para 47 nos últimos 10 anos, e eles agora estão ausentes da região próxima à ponte, de acordo com a filial de Hong Kong do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, da sigla em inglês). “O projeto causou danos irreversíveis ao mar”, disse Samantha Lee, diretora-assistente de preservação marinha na WWF. “Receio que o número (de animais) nunca mais volte a subir”.