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Por Redação O Sul | 14 de outubro de 2017
Segundo um estudo de pesquisadores do FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil seria até 30% mais rico se suas instituições fossem menos corruptas. O levantamento, elaborado pelo economista Carlos Eduardo Gonçalves e outros profissionais, afirma que o PIB (Produto Interno Bruto) per capita do País dividido pela população cresceria US$ 3 mil (R$ 9,6 mil) nessas circunstâncias.
Em 2016, o PIB per capita do Brasil foi de R$ 30.407, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os pesquisadores do FMI estimaram como seria se o Brasil tivesse condições mais próximas às do Chile, Costa Rica e Uruguai, considerados os países menos corruptos da América Latina.
Em 2014, o Fórum Econômico Mundial estimou que o custo da corrupção é de 5% do PIB mundial, ou US$ 2,6 trilhões. “Existe um problema de ovo e galinha quando se estuda corrupção e renda”, afirma Gonçalves. “Os países que são mais ricos têm mais recursos para combater a corrupção, então é difícil isolar causa e efeito.”
Para ajudar a entender a relação entre os dois, o estudo incluiu a medida da “heterogeneidade étnico-religiosa” de cada país, partindo da premissa de que, quanto maior a diversidade da população, maior a corrupção. “Se um país é muito heterogêneo em várias dimensões, ele geralmente apresenta uma taxa mais alta de corrupção. Quando todo mundo é parecido entre si, é menos provável que um grupo tente roubar para favorecer os seus”, afirma Gonçalves.
“Essa é uma variável bastante associada à corrupção”, afirma Marcus Melo, cientista político. “Usando esse método, o estudo torna a estimativa mais precisa e menos sujeita a erros que resultam da heterogeneidade”, explica.
Outros estudos acadêmicos já concluíram que a corrupção aumenta quanto maior for a diversidade étnica, e alguns pesquisadores preferem entender essa medida como um indicador dos conflitos étnicos e raciais de um país.
Questão estatística
A heterogeneidade da população foi usada como variável instrumental, que, na estatística, é algo que permite medir os efeitos de A (corrupção) sobre B (riqueza), quando B também influencia A. Para ser considerada uma variável instrumental adequada, parte-se da premissa de que a heterogeneidade (C) tem relação com A (corrupção), mas não afeta diretamente B (riqueza).
Por exemplo, para calcular os efeitos do consumo de alimentos dietéticos (A) sobre o peso (B), há um problema: pessoas que consomem tais alimentos o fazem justamente porque estão acima do peso. Para contornar, o preço de alimentos dietéticos (C) pode ser uma variável instrumental, já que a única maneira de esses preços afetarem o peso das pessoas é pelo consumo de alimentos dietéticos.
Ou seja, o efeito que C tem sobre B deve ocorrer exclusivamente via A. Segundo os pesquisadores do FMI, a “heterogeneidade étnico-religiosa” de cada país é uma medida correlacionada com a corrupção, mas que não afeta diretamente o PIB, o que, segundo eles, faz com que seja uma variável instrumental ideal.