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Por Redação O Sul | 14 de novembro de 2019
Em um texto postado no Twitter, o ex-presidente boliviano Evo Morales, 60 anos, pediu nessa quarta-feira que a ONU (Organização das Nações Unidas) e o papa Francisco acompanhem as tratativas políticas para pacificar o país andino. “A violência atenta contra a vida e a paz social”, escreveu.
Anteriormente, em entrevista a uma rádio do Uruguai, ele havia proposto que essa mediação contasse com a presença de ex-governantes como o uruguaio José Mujica e o espanhol José Luis Rodríguez Zapatero. Morales também defendeu a sua gestão e afirmou que, legalmente, continua sendo presidente do país, já que o Parlamento ainda não formalizou a sua renúncia.
Em uma coletiva de imprensa na Cidade do México, onde foi recebido nesta semana como asilado político, ele propôs um diálogo nacional para conter os confrontos na Bolívia – com participação da sociedade civil, “políticos que perderam as eleições e movimentos sociais de diferentes setores”.
O ex-presidente disse que o diálogo pode ser acompanhado “por países amigos e organizações internacionais”. Ele afirmou ainda estar disposto a retornar ao seu país, “se o povo (boliviano) pedir” e para contribuir com a pacificação, e enfatizou que “se não houver diálogo nacional vai ser difícil parar esse confronto”.
Ele voltou a acusar a OEA (Organização dos Estados Americanos) de contribuir para agravar a crise na Bolívia. “A OEA não está a serviço dos povos latino-americanos e menos ainda dos movimentos sociais. Está a serviço do império americano”, disse o ex-presidente.
Morales alegou que, quando a oposição e a OEA acusaram as eleições de fraudulentas, não considerava “nenhum problema” que organizações internacionais e instituições verificassem a lisura do processo. No entanto, disse que viu uma atitude suspeita na forma de a entidade agir. O ex-governante acrescentou que, se foi determinado que ele não venceu no primeiro turno eleitoral, “então, cumprindo as regras e a Constituição, há um segundo turno”.
Ao menos duas pessoas morreram durante novos confrontos entre seguidores de Morales e oposicionistas, aumentando para dez o número de vítimas fatais dos protestos, que ocorrem há três semanas na Bolívia.
Situação política
Morales renunciou à presidência no último domingo, após a OEA denunciar supostas irregularidades no pleito em que o então presidente foi reeleito para o quarto mandato consecutivo.
Sua participação nas eleições foi autorizada pelo Tribunal Constitucional, embora a Constituição que ele mesmo promulgou limite a dois o número de mandatos consecutivos e a população tenha rejeitado a possibilidade de reeleição indefinida num referendo.
Na última terça-feira, Jeanine Añez, 52 anos, segunda vice-presidente do Senado e oposicionista de Morales, declarou-se presidente interina da Bolívia. O Tribunal Constitucional aprovou a troca de poder.
Ela terá que organizar novas eleições em um prazo de 90 dias. No dia seguinte à sua posse, ela apresentou seu gabinete de ministros, cuja maioria é formada por políticos de Santa Cruz, tradicional reduto eleitoral de adversários de Morales.