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Colunistas O general, o nome da rosa e o restaurante que trocou o nome das coisas

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(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Li em um jornal da Capital que um restaurante está oferecendo “fina comida compartilhada”. Olhei a matéria toda e descobri que era buffet por peso, mesmo. Mas esse nome com balaca parece ser do gosto de um certo tipo de gente que adora ser enganada. Há alguns restaurantes que engambelam com coisas tipo “espuma não sei de quê”. Você vai ver é uma ameixinha e do lado um pouquinho de caldo e um montinho de espuma branca sem gosto.

É a novilingua da qual Orwell falava em seu clássico 1984. O Ministério da Guerra tinha o nome de Ministério do Amor. Isso se vê todos os dias. Carro usado virou “seminovo”. Publicidade de carro é sempre feita com ruas vazias. Os sites mostram fotos de quartos de hotéis tirados de determinado ângulo que falsificam a realidade.

Pessoas que antigamente ganhavam a vida vendendo ilusões tipo autoajuda e fazendo stand up para empresários trouxas, agora viraram coachings. Adoro essa palavra. Quando o sujeito não tem mais nada para fazer…vira coaching. Esse conceito abrange tudo. Coaching pode ser instrutor de esqui. Vendedor de Avon. Representante de Jequiti. Treinador de vendedor de imóveis que ensinam para os vendedores ligarem para as pessoas chamando-as pelo nome, como se fossem íntimos. Liga o vendedor: É o Lenio? Respondo: Depende. Dê-me detalhes. Conheço você? Temos essa intimidade? O que você quer? E o vendedor: “Quero te oferecer um imóvel em um novo empreendimento…”. Hum, hum. O coaching não está treinando bem essa gente.

Dica para os coachings de imobiliárias (que agora já têm outro nome, algo como “assessoria de projetos home” ): quem quer vender um produto caro deve, primeiro, informar-se para quem está ligando. O sujeito pode ser professor, cientista, etc. Então, primeira dica: não mostre intimidade. Você ainda não a tem. Outra coisa: nunca diga: “seu fulano”. Horrível.

Nestes tempos de pós-modernidade, há outra coisa que, embora não tenha nada a ver com o que escrevi acima – virou “escola”: gente desinformada metida a besta, que, no rádio, lê matéria feita por outro jornalista e não cita a fonte. Dia desses peguei um(a) na tampa. Fazendo balaca, um apresentador de um programa chamou à colega jornalista à colação, pedindo que dissesse qual seria a atração do programa seguinte. E a moça leu matéria da Folha de São Paulo que eu acabara de ler há dois minutos. Só que esqueceu o principal: citar a fonte. Comecei a prestar atenção e comparar as matérias. Bingo. O estar bem informado não passa de uma cleptagem informativa.

O interessante é que tem gente que clepta notícia, não dá a fonte (no Brasil, só quem fornece a fonte, mesmo, é a água mineral), e fica falando mal da política, dizendo que “assim não dá mais” etc. Pois é. Pequenos delitos, grandes negócios.

As coisas ficam mudando de nome, mas continuam iguais. Antigamente buffet chamava buffet. Agora é comida compartilhada. Gilete press (recorte de notícias de jornais para formatar noticiário de rádio) agora é “a melhor informação”. Gosto também dos “espaços gourmet”, que não passam de lugares onde vendem comida. Simples assim. Carroça de cachorro quente virou food truck.

Por fim, para não esquecer: esse negócio do General Mourão ficar falando de intervenção militar é patética. E, pior: usa a Constituição. O general e seus amigos/aliados que ficam dizendo essas bobagens deveriam consultar um professor de direito. O nome disso é golpe. Chamemos as coisas pelo nome: o general Mourão falou, mesmo, é de golpe. Forças Armadas não tem autonomia para intervir em nada, sem serem chamadas formalmente. Portanto, que história é essa de “intervenção no caos”? Já vi gente na TV e rádio repetindo essa falácia. Se ninguém chamar para fazerem intervenção em alguma questão pontual (por exemplo, combater o crime na Rocinha no Rio), nem de longe alguém pode pensar em “intervenção militar no Brasil”. A menos que alguém tenha outra Constituição que não essa que estudei tanto. Mourão fez como o restaurante, que trocou o nome de comida a quilo por comida compartilhada. Lembremos Shakespeare, Romeu e Julieta: se chamássemos a rosa de outra coisa, ela perderia seu perfume? Eis o nome da rosa.

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/o-general-o-nome-da-rosa-e-o-restaurante-que-trocou-o-nome-das-coisas/ O general, o nome da rosa e o restaurante que trocou o nome das coisas 2017-09-23
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