Mundo O Hospital do Vaticano colocava crianças em risco para ter lucro, diz inquérito
Por Redação O Sul | 3 de julho de 2017
Os médicos e enfermeiros do hospital pediátrico de referência do Vaticano estavam furiosos: detalhes eram cortados, os protocolos, ignorados. E as crianças doentes estavam sofrendo. A reação do Vaticano foi rápida. Uma investigação secreta de três meses no início de 2014 reuniu depoimentos e documentação de dezenas de funcionários atuais e antigos e confirmou que a missão do “hospital do papa” se perdeu e “hoje é mais voltada para os lucros do que a cuidar das crianças”.
O que aconteceu depois surpreendeu muitos dos envolvidos: o relatório não foi divulgado. Algumas das recomendações foram postas em prática, mas outras não. E o Vaticano encomendou um segundo inquérito em 2015, que depois de três dias de visita ao hospital concluiu que não havia nada errado, afinal.
Uma investigação da agência de notícias AP (Associated Press) descobriu que o Hospital Pediátrico Menino Jesus, pedra angular do sistema de saúde italiano, realmente mudou seu enfoque de diversas maneiras durante a última administração. Sob a diretoria que o comandou de 2008 a 2015, o hospital expandiu seus serviços e tentou fazer uma empresa deficitária do Vaticano dar lucro – e às vezes as crianças pagaram o preço.
Entre as conclusões da AP: 1) Superlotação e má higiene contribuíram para infecções mortais, incluindo um surto de superbactérias de 21 meses no pavilhão de câncer, que matou oito crianças. 2) Para economizar, equipamentos e outros materiais descartáveis eram às vezes usados de modo errado; houve uma remessa de agulhas baratas que se quebravam quando injetadas nas pequenas veias. 3) Os médicos eram pressionados a maximizar a ocupação das salas de cirurgia, e os pacientes às vezes eram retirados da anestesia rápido demais. 4) Alguns problemas – como o despertar prematuro e o enfoque nos lucros– tinham sido identificados em 2014 pela força-tarefa autorizada pelo Vaticano de médicos, enfermeiros, administradores e outros funcionários do hospital, atuais e anteriores.
A AP corroborou essas conclusões por meio de entrevistas com mais de 12 empregados do Menino Jesus, atuais e antigos, assim como pacientes, suas famílias e autoridades de saúde. A AP reviu registros médicos, decisões de tribunais civis, e-mails do hospital e do Vaticano e cinco anos de queixas sindicais.
O Menino Jesus contestou as conclusões da AP e ameaçou abrir um processo jurídico. A direção disse que a investigação da agência se baseou em informações que eram “de certa forma falsas, de outras seriamente infundadas e defasadas em dois anos, mas acima de tudo clinicamente implausíveis e difamatórias em um nível moral e ético”.
O hospital citou sua reputação como centro de excelência. Ele atrai cirurgiões de primeira linha para trabalhar lá e recebe a visita de celebridades, incluindo uma da primeira-dama dos EUA, Melania Trump, em maio. O hospital também indicou a segunda investigação do Vaticano, liderada por uma especialista em saúde norte-americana, a irmã Carol Keehan, como evidência de que as alegações eram falsas.
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