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Mundo O médico dos Estados Unidos que lançou a moda da vitamina D recebe dinheiro da indústria farmacêutica

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O mercado de suplementos e testes de vitamina D movimenta US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4 bilhões) ao ano. (Foto: Reprodução)

O entusiasmo de Michael Holick pela vitamina D pode ser descrito, com justiça, como extremo. O endocrinologista da Universidade de Boston talvez seja o maior responsável por criar o mercado de suplementos e testes de vitamina D, que movimenta US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4 bilhões) ao ano. As informações são do jornal The New York Times.

Ele eleva seu nível da substância usando suplementos e leite fortificado. Quando sai de bicicleta, não usa protetor solar nos braços e pernas. Holick já escreveu livros inteiros de elogio à vitamina D e alertou em numerosos artigos acadêmicos sobre “a pandemia da deficiência de vitamina D”, que explicaria o estado insatisfatório da saúde mundial e a forte incidência de doenças. A fixação dele é tão intensa que se estende aos dinossauros.

E se o verdadeiro problema do asteroide que se chocou com a Terra 65 milhões de anos atrás fosse não a escassez de comida que ele causou, mas os ossos fracos que resultam da falta de luz solar? “Eu às vezes imagino”, escreveu Holick, “se os dinossauros não morreram de raquitismo ou de osteomalacia”. O papel de Holick na formulação das diretrizes nacionais dos Estados Unidos sobre as necessidades de vitamina D e a aceitação de sua mensagem por boa parte dos médicos e pelos gurus de wellness, ajudaram a elevar as vendas de suplementos vitamínicos a US$ 936 milhões (cerca de R$ 3,7 bilhões) em 2017.

Isso representa alta de 900% ante as vendas da categoria uma década antes. O número de testes de laboratório quanto a deficiência de vitamina D também disparou: os médicos americanos solicitaram mais de 10 milhões deles para pacientes do programa federal de saúde Medicare em 2016, ou 547% mais testes do que em 2007.

O custo total desses testes atingiu os US$ 365 milhões (aproximadamente R$ 1,4 bilhão). Mas é improvável que muitos dos americanos que se deixaram arrastar pela mania da vitamina D saibam que o setor remunera Holick generosamente pelo seu esforço. Uma investigação conduzida pela Kaiser Health News a pedido do The New York Times constatou que ele usa sua posição influente na comunidade médica a fim de promover práticas que beneficiam financeiramente empresas –fabricantes de medicamentos, salões de bronzeamento e um dos maiores laboratórios de testes médicos dos Estados Unidos – que lhe pagaram centenas de milhares de dólares em honorários.

Holick, 72, admitiu em entrevista que desde 1979 trabalha como consultor para o laboratório Quest Diagnostics, que realiza testes de vitamina D. Holick disse que as verbas que recebe do setor “não influenciam em termos de falar sobre os benefícios da vitamina D para a saúde”.

Não há questão de que a vitamina D é um hormônio importante. Se ela não estiver presente em nível suficiente, os ossos podem perder espessura e se tornar quebradiços, ou passar por deformações, causando uma condição conhecida como raquitismo, em crianças, ou osteomalacia, em adultos. A questão está em qual o teor de vitamina D é saudável e qual aponta para deficiência de vitamina.

O papel crucial de Holick em orientar esse debate foi exercido em 2011. No final do ano anterior, a prestigiosa Academia Nacional de Medicina americana (então conhecida como Instituto de Medicina), que congrega especialistas científicos independentes, divulgou um relatório abrangente de 1.132 páginas sobre a deficiência de vitamina D. O estudo concluiu que a vasta maioria dos americanos produzia quantidade suficiente do hormônio naturalmente e aconselhou os médicos a só testar os níveis de vitamina D nos pacientes em alto risco de certas enfermidades, como a osteoporose.

Poucos meses mais tarde, em junho de 2011, Holick supervisionou a publicação de um relatório que adotou posição radicalmente diferente. O estudo, publicado na revista acadêmica Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, foi produzido a pedido da Sociedade de Endocrinologia, a mais famosa organização profissional do ramo, cujas diretrizes são usadas amplamente por hospitais, médicos e laboratórios clínicos dos EUA, como o Quest.

A organização adotou a posição de Holick, de que “a deficiência de vitamina D é muito comum em todas as faixas etárias”, e advogou uma grande expansão nos testes de vitamina D, que abarcaria mais de metade da população dos EUA, incluindo os negros, os hispânicos e os obesos – que tendem a ter nível de vitamina D inferior ao de outros grupos. As recomendações propiciaram enormes benefícios financeiros para o setor de vitamina D.

Ao advogar testes generalizados, a Sociedade de Endocrinologia direcionou mais negócios para o Quest e outros grandes laboratórios. Hoje, testes de vitamina D ocupam o quinto posto entre os testes de laboratório mais frequentes, nos exames cobertos pelo Medicare.

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