Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 21 de fevereiro de 2019
Na manhã dessa terça-feira, em Brasília, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, voltava de sua faculdade, o IDP (Instituto Brasileiro de Direito Público), onde havia concedido uma palestra aos calouros. Ao descer de um carro blindado, na companhia de dois seguranças, foi recebido no quintal de casa por outros três agentes, todos armados e com coletes à prova de balas.
Na semana anterior, tornara-se pública uma investigação da Receita Federal sobre ele e sua mulher, a advogada Guiomar Feitosa, sócia do escritório de advocacia Sérgio Bermudes, um dos maiores do País. Era a primeira vez na história que um magistrado da mais alta Corte brasileira era alvo desse tipo de escrutínio.
A justificativa do Fisco para devassar as contas do ministro era uma “análise de interesse fiscal” para investigar possíveis fraudes de “corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio ou tráfico de influência”. A suspeita levantada envolveria o IDP, os honorários advocatícios dela e um suposto favorecimento dele no julgamento de processos na Corte.
O Imposto de Renda do casal vazou e 18 pessoas, dentre parentes e conhecidos, foram listadas como potenciais investigados. O trabalho era tocado pelo auditor Luciano Castro, lotado em Vitória, onde Gilmar e Giomar não têm negócios ou propriedades. “Sou alvo de ataques desde que cheguei ao STF, há 17 anos”, disse ele a um repórter, enquanto bebia café. “Mas essa última ofensiva passou de todos os limites.”
Primeiro, eram ex-colegas de Ministério Público, depois a Polícia Federal e, agora, a Receita. Em tom indignado, ele atribuiu o fato a seus posicionamentos críticos ao que considera excessos ilegais. Um dos casos que disse ser emblemático da arbitrariedade que denuncia foi a prisão do banqueiro André Esteves, que foi preso e cujo caso não chegou a nenhum lugar. “Ele ficou meses preso e, depois, não tiveram coragem de dizer claramente que era um erro. Disseram apenas que não encontraram provas. Isso é absurdo”.
Ele atribui essa suposta perseguição as enfrentamentos nos quais tem sido um dos protagonistas. Dentre os exemplos que menciona estão a Operação Satiagraha, quando soltou o banqueiro Daniel Dantas: “Aquilo foi uma guerra comercial para ferrar o Dantas, diante dos interesses da Telecom Itália e outras. Depois, no caso da investigação da Gautama, quando a PF divulgou propositalmente o nome de um dos envolvidos, meu homônimo, apenas para me envolver”.
Ainda segundo Mendes, há um procurador – Luiz Francisco de Souza – cuja missão seria atingi-lo e também ao ex-delegado Protógenes Queiroz, posteriormente expulso da corporação. “Quando todos vocês lambiam as botas do PT, eu era voz única a ser contra”, disse em alusão a como não se furtava a enfrentar polêmicas.
Esposa
A esposa, por sua vez, disse nunca ter enfrentado problemas com a Receita e que, sendo oriunda de uma família rica “que tem tudo declarado”, a investigação era um absurdo. Dias antes, o site Crusoé havia publicado um levantamento do que seriam os bens do casal (que está junto há 20 anos), em um total de R$ 20 milhões.
Colega
Questionado se ele é o único alvo do que chama de “milícias institucionais”, Gilmar Mendes baixou o tom de voz e disse que há um integrante do STF sendo chantageado por uma das grandes operações investigativas em curso no País.
“A toda hora plantavam e plantaram que esse ministro estava delatado”, protestou, sem mencionar o nome do colega. Qual a intenção? Isso é uma forma de atemorizar, porque essa gente perdeu o limite. Ele ficou refém deles. Isso aqui é uma mistura da Gestapo alomã com com a KGB russa, mas feita pelas ‘Organizações Tabajara!’”