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Por Redação O Sul | 24 de fevereiro de 2019
Conhecido como Paulo Preto e apontado como operador de políticos tucanos em São Paulo, o engenheiro Paulo Vieira de Souza, 69 anos, criou uma empresa para absorver seu patrimônio em imóveis e uma lancha. Investigadores suspeitam que se trate de uma manobra para blindar bens contra confiscos determinados pela Justiça.
Ex-diretor da Dersa (estatal paulista de obras viárias) de 2005 a 2010, nos governos de Geraldo Alckmin (PSDB), Cláudio Lembo (DEM) e José Serra (PSDB), o executivo é alvo da Operação Lava-Jato e está preso desde a última terça-feira. Ele foi responsável por grandes obras do governo tucano no estado, como o Rodoanel.
A juíza Gabriela Hardt, substituta interina do ex-juiz Sérgio Moro e responsável pela operação no Paraná, ordenou o bloqueio de R$ 100 milhões dele, mas o Banco Central só achou R$ 396. Situação parecida ocorreu no ano passado, quando ele foi alvo de bloqueio na Justiça de São Paulo.
A P3T Empreendimentos, que absorveu seu patrimônio, foi fundada no final de 2014 por ele e por Ruth Arana de Souza, de quem se divorciou cinco anos antes. O ano de criação da empresa é o mesmo que marcou a deflagração da Operação Lava Jato – que, na época, deteve presidentes de empreiteiras como Camargo Corrêa e OAS.
Cerca de dois meses depois do início das atividades da empresa de Paulo Preto, houve uma redistribuição do capital dela e admissão no quadro de sócios das duas filhas do casal, Priscila e Tatiana Arana Souza. Cada filha hoje tem participação de R$ 1,9 milhão, restando aos pais apenas quantia simbólica de R$ 100. Preto, porém, figura como administrador e declarou à Justiça que recebe R$ 2 mil mensais pela atividade.
Ao menos quatro imóveis do engenheiro e da ex-mulher, adquiridos após a entrada dele na Dersa e avaliados em R$ 3,4 milhões (em valor venal total, que costuma ser subestimado), foram assumidos naquela época pela empresa. Na Junta Comercial, ela está inscrita como “holdings de instituições não financeira, aluguel de imóveis e compra e venda de imóveis próprios”.
Na operação de terça-feira, a juíza autorizou buscas em endereços ligados ao engenheiro, incluindo cinco firmas que ele havia aberto antes de entrar no setor público. Nas décadas de 1970 e 1980, ele trabalhou em incorporadoras e já havia adquirido outros imóveis. Ao menos cinco propriedades mais antigas, com valor venal total de cerca de R$ 4,5 milhões, também foram integralizadas pela P3T.
Um dos alvos de busca na terça foi um hotel em funcionamento em Ubatuba (SP), no qual ele figurou como fundador nos anos 1990. Os investigadores identificaram que uma das firmas de fachada do operador financeiro Adir Assad, hoje delator da Lava Jato, repassou R$ 9,8 mil para o hotel em 2011.
Envolvimento de familiares
Segundo a investigação, Assad foi apresentado a dirigentes de empreiteiras por Paulo Preto, e ambos mantiveram um esquema de fornecimento de dinheiro vivo no País. O hotel, chamado “Giprita”, está em nome da ex-mulher e das filhas dele. Uma delas, Tatiana, 38, é ré junto com o engenheiro em um caso que tramita em São Paulo e que incluiu duas ordens de prisão contra ele no ano passado.
Ex-assessora de cerimonial do governo Serra, ela também chegou a ser detida e é suspeita de participar, com o pai, de esquema de desvio de dinheiro público em assentamentos na obra do Rodoanel. Outra filha, Priscila Souza, 41 anos, é advogada e trabalhou em um escritório que defendia empreiteiras na época em que o pai trabalhava no órgão paulista. A banca de advogados pertence a Edgard Leite, irmão do ex-executivo da Camargo Corrêa Eduardo Leite, hoje delator da Lava-Jato.
Ruth se divorciou de Paulo Preto em 2009, ficando com parte dos bens que estavam em nome do engenheiro. Apesar de separados, ela mora no mesmo apartamento dele e ficou responsável por comunicar à Justiça ocorrências com a tornozeleira eletrônica nos cinco meses em que ele esteve em regime domiciliar, antes da prisão de terça.
Essa fase da Lava-Jato que mira Paulo Preto não aborda diretamente suspeitas em obras de São Paulo, mas a suposta ação dele como operador da Odebrecht. Para a Procuradoria, o engenheiro, por meio de contas no exterior, ajudou a empresa a pagar propina a políticos e executivos da Petrobras.
A decisão de não tratar de ilegalidades envolvendo o governo paulista e de abrir nova investigação no Paraná foi entendida como um subterfúgio para evitar que o caso fosse relatado no STF (Supremo Tribunal Federal) pelo ministro Gilmar Mendes, que concedeu anteriormente medidas favoráveis ao ex-diretor da Dersa, como habeas corpus.