Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 31 de março de 2018
O presidente Michel Temer estuda fazer um pronunciamento em rede nacional nesta segunda-feira (2) para se defender mais uma vez das suspeitas de envolvimento em um esquema de corrupção no setor portuário. A ideia é seguir, no rádio e na TV, a mesma linha da nota emitida na sexta-feira (30) pelo Palácio do Planalto, com ênfase no que auxiliares classificam como defesa da honra do presidente.
Em sua fala, o presidente deve destacar “excessos” da operação da PF (Polícia Federal) que prendeu seus amigos mais próximos, na última quinta-feira (29), e reforçar o discurso de que todo brasileiro “tem direito à ampla defesa”. Auxiliares argumentam que Temer não deve falar diretamente de seus amigos e assessores detidos, como o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima Filho, acusados de serem operados de longa data do presidente.
Para eles, Temer precisa seguir um “rito de estadista” e criar um contraponto às acusações, mais uma vez apostando na tese de que estão tentando acabar com sua vida pública. Na sexta-feira, após reunião com ministros e auxiliares no Palácio da Alvorada, o presidente divulgou uma nota em que acusa “autoridades” de tentar destruir sua reputação, utilizando-se de “métodos totalitários”.
No texto, Temer insiste que o decreto editado pelo seu governo no ano passado para o setor portuário não beneficiou a empresa Rodrimar, cujo dono foi preso na quinta-feira. “Sem ter fatos reais a investigar, autoridades tentam criar narrativas que gerem novas acusações”, diz o comunicado assinado pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República.
A tese do núcleo do governo é de que as prisões servem para forçar delações premiadas que comprometam o presidente e criem um enredo substancioso que sirva de base para a apresentação de uma terceira denúncia contra ele. Temer já foi alvo de duas denúncias apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) em 2017.
Ambas foram engavetadas pela maioria dos deputados com o argumento de que os fatos apresentados pelos procuradores eram uma “ficção”. Agora, o presidente volta a utilizar a estratégia de desqualificar as investigações, discurso que encontrou eco nos aliados e teve êxito na época da delação da JBS.
Reunião no Jaburu
Na manhã da última quinta, logo que vieram as primeiras notícias das prisões de amigos do presidente, ministros do chamado “núcleo duro” do governo se reuniram com Michel Temer no Palácio do Jaburu, em Brasília. Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria Geral), Torquato Jardim (Justiça) e Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional) tentavam entender as mudanças no cenário e o quanto isso atingia o presidente.
Conforme relatos de fontes do primeiro escalão federal, o que se viu naquele momento foi um presidente da República calado e ministros abatidos. “Temer estava silencioso, mais ouvindo do que falando, sem demonstrar tanto abatimento quanto alguns de seus ministros”, contou um interlocutor presente na ocasião. “O momento é de preocupação total.”