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Colunistas O professor sou eu. Sim, sou um chato.

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Li uma reportagem em jornal sobre o ensino médio, feita a partir do acompanhamento de alunos de uma escola. Magnífica matéria. Descobre-se o que já se sabe, mas sempre é bom o fenômeno ser desvelado empiricamente. O ensino é médio (pós fundamental). Alunos que mal sabem ler. Copiam trabalhos da internet. E depois nem sabem ler o que copiaram. Além disso tem o ensino politécnico, maneira disfarçada para perpetuar a mediocridade, para dizer o menos. Fica fácil a aprovação. Mais ou menos como nas faculdades de Direito: para chumbar, tem de ter pistolão, se me entendem o sarcasmo. A professora de literatura desabafa: temo que os alunos não saiam formados em nada… A reportagem é autoexplicativa.

(Não) impressiona também o fato de que os alunos utilizam celulares, fones de ouvido, tablets, etc. durante as aulas. Há uma cena da aula de literatura em que alguns ficam no fundo da sala escutando rap. É comum hoje os professores terem enormes dificuldades para disciplinar os alunos. E isso não está na reportagem, mas se sabe. A sala de aula acaba sendo a extensão da casa… e da rua.

Interessante notar o paradoxo: quanto mais informação, menos conhecimento, menos saber, menos sabedoria. A internet criou uma sociedade de imbecis. Um criatório de néscios. Como no livro Reprodução, de Bernardo Carvalho. Os usuários, mormente os jovens alunos, falam o mundo a partir de drops e frases prêt-à-porters. Agora se usa emojis. Já não se responde com palavras. Coloca-se uma figurinha. O analfabetismo funcional avança a passos largos. Escrevi um texto em rede nacional e coloquei uma pegadinha. Disse que havia uma pesquisa (coloquei o nome em inglês) que constatou que burrice era ciência e que era possível aprender a ser um asno. Incrível: ninguém contestou a “pesquisa”. Muita gente queria acesso. Vou estocar alimentos. Mesmo.

O Google e as redes sociais são os novos hermeneutas. Como na mitologia, nunca se soube o que os deuses disseram; só se soube o que Hermes disse que os deuses disseram. Não há mundo. O mundo é o que as redes mostram.

Essa praga contemporânea, que, de ferramenta, transformou-se em um (mau) fim em si. O Brasil possui três celulares por pessoa. O sujeito pode não arrumar os dentes, mas tem dois ou três celulares… e duas grandes orelhas de burro. Dentes podres, mas com um iPhone reluzente. A Índia é aqui. Nossa meta: Três celulares e um automóvel por habitante: eis o nirvana. Eis a nossa passagem para o primeiro (?) mundo! E a educação? Hein?

Estudei com o Professor Kristofics. No meio do mato. Várzea do Agudo. Cinco turmas juntas. Quarenta alunos. Nem um pio. Antes dos 6 anos, já sabia ler. E sabia toda a tabuada. E aprendia geografia e história. O professor lecionava para o 5º ano e nós, do 1º, ouvíamos tudo.

Passei no concurso para professor aos 16 anos. Escola pobre. Periferia. De Agudo. Uma vila de Agudo, na verdade. Lecionei também para os cinco níveis juntos. Meus alunos sabiam mais do que esses do ensino médio da reportagem. E sem internet. Na década de 1970. E ninguém dava um pio na sala de aula.

Não gosto que se use celular e internet nas minhas aulas de mestrado e doutorado. O professor sou eu. Sim, sou um chato. Eu mando na sala. Porque eu sei a matéria. Para isso sou pago. Disciplina, autoridade. E sem facilidades para passar de ano. Bingo. Eis a receita. Professor ensina; aluno aprende. Simples.

Li que um aluno chama a professora de “sora”. Tsk, tsk, tsk (isto é uma onomatopeia). Escola é o lugar da cultura? O que é “sora”? E “tia”? O que é isto – a educação contemporânea? Desnecessário dizer da minha solidariedade à classe. Entrei nessa luta aos 16 anos. Quero que seja implantado o piso nacional. Contem comigo. Mas, cobrem disciplina e matéria dos alunos. Eles agradecerão. No futuro. Se eles tiverem um…

Sala de aula não substitui a família. E esta não deve delegar sua tarefa primeira à Escola. Mas, se ninguém fizer nada… estaremos mais lascados do que já estamos. Professores: imponham-se!

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/o-professor-sou-eu-sim-sou-um-chato/ O professor sou eu. Sim, sou um chato. 2017-05-12
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