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Mundo O relato de abusos sexuais cometidos por bispos no Chile

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O papa Francisco reunido no Vaticano em maio com a cúpula da Igreja no Chile; 34 bispos do país renunciaram ao cargo devido ao escândalo de abusos. (Foto: Reprodução)

Da porta para fora, disciplina militar. Da porta para dentro, acusações de, no mínimo, fazer vista grossa a casos de abusos sexuais cometidos na Igreja. Gonzalo Duarte é um dos três bispos chilenos — junto com Juan Barros e Cristián Caro — cujas renúncias foram aceitas pelo papa Francisco em meio ao terremoto que abalou a instituição no Chile e no mundo.

A igreja chilena garante que a saída dele foi aceita “por motivos de idade”. No entanto, há quem acusa o bispo da terceira diocese mais importante do país de encobrir abusos e ignorar denúncias. Veja um relato desses abusos:

Antes mesmo de completar a maioridade, Mauricio Pulgar sentiu que tinha vocação sacerdotal. Ele havia atuado como acólito – jovem que acompanha e ajuda o padre na celebração da missa — e participava do trabalho pastoral da paróquia em uma pequena cidade perto de Valparaíso. Quando foi convidado para uma viagem no verão de 1993, não pensou duas vezes. Segundo seu depoimento, dois sacerdotes acompanhavam o grupo, mas um deles precisou ir embora e o que ficou responsável, a quem identifica como “padre M”, cometeu abusos.

Os casos ocorreram durante a noite e começaram quando o religioso disse aos jovens que eles teriam de tomar banho na piscina, sem roupas. “Nos recusamos a fazer isso com outro colega (junto), mas ele disse que, se não fizéssemos, era porque tínhamos problemas sexuais”, conta Pulgar.

Diante da situação e aos 17 anos, um de nós então falou: “Bom, assim será.” E se enfiou na piscina.
“O padre M começou a passar entre nós. Ele nos tocava e dizia que isso era muito bom porque ajudava a confiança, a autoestima. Foi muito traumático.”

Uma declaração juramentada de outro participante confirma a versão de Pulgar. “Pareceu estranho, mas ele nos convenceu depois de que era algo ‘divertido’.” “Nós éramos muito jovens e não víamos maldade ou segundas intenções, ainda mais vindo de um padre”, continua a declaração.

Dois meses depois, Pulgar entrou no seminário de Valparaíso, onde abusos do padre e de outros religiosos encarregados de formar os seminaristas também ocorreram e foram alvos de denúncias. “(Lá), se você não se deixasse beijar no rosto era porque tinha problemas, também era preciso se vestir como o padre M queria e eles começaram a me afastar da minha mãe.”

À medida que o tempo passava, Pulgar foi ficando incomunicável. Só lhe permitiam ver sua mãe se ela o visitasse em uma sala com uma parede de vidro, a partir da qual os formadores poderiam monitorar as conversas. Mauricio Pulgar disse que chegou a ser proibido de ver a família e que era considerado um ser inferior por sua mãe ser divorciada. “Eles empurram a ideia de que se você prejudica a Igreja, você é praticamente o anticristo. A obediência e a submissão são partes importantes da formação.” Pulgar disse que começou a ter crises de ansiedade a partir dos maus-tratos.

A paróquia do padre H ficava em uma cidade perto da paróquia onde Pulgar trabalhava, então, ele passou a ajudá-lo por alguns dias. Só que, mais uma vez, algo parecia errado. “Ele perguntou por que eu não deixava que me ‘iniciasse’ e eu não entendia aquilo como se ele estivesse falando sério. Sempre achava que estava brincando.”

“Um dia, ele me pediu que passasse a noite na paróquia. Aquilo não me pareceu certo porque teríamos de dormir no mesmo quarto, já que o outro estava ocupado por um outro padre, mas ele me disse: ‘Eu ponho um colchão ao lado da minha cama’. Eu disse a ele que preferia dormir na sala de estar. Ele me deu um sanduíche e uma bebida, eu comecei a me sentir mal e ele me disse para deitar na cama. Lá, eu desmaiei e só acordei ao ouvir sua respiração ofegante. Ele estava abusando de mim. Eu tentei mexer meus braços e pernas, mas não pude. Consegui mover uma mão, mas ele a pegou, junto com a outra e…”, sua voz falha. “Ele me disse: ‘Fique tranquilo que não aconteceu nada aqui’. Aí abriu uma gaveta cheia de dinheiro e me disse que eu agora era do seu círculo. Eu disse que não queria ser de círculo nenhum e saí.”

Posteriormente, Pulgar contou a outro padre o que havia acontecido e pediu que alguém assumisse a responsabilidade. No entanto, diz ele, a única coisa que conseguiu foi que Gonzalo Duarte, então recém-nomeado bispo militar, interviesse para que não o deixassem terminar seus estudos em teologia.

Muitos anos se passaram antes que Pulgar pudesse lembrar ou falar sobre isso, mas, em 2013, ele decidiu dar entrada em uma ação na Justiça comum e denunciar o caso.

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https://www.osul.com.br/o-relato-de-abusos-sexuais-cometidos-por-bispos-no-chile/ O relato de abusos sexuais cometidos por bispos no Chile 2018-06-18
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