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Por Redação O Sul | 2 de fevereiro de 2019
Depois de muita confusão e de um impasse só resolvido no Supremo Tribunal Federal, o plenário do Senado elegeu neste sábado (2), em votação secreta, Davi Alcolumbre (DEM-AP) como presidente da Casa até janeiro de 2021.
A disputa colocou em lados opostos o Palácio do Planalto, especialmente o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, principal cabo eleitoral de Alcolumbre, e Renan, que tinha apoio principalmente dos senadores mais experientes da Casa, mas que acabou desistindo da disputa.
Apesar da vitória, o governo de Jair Bolsonaro deve enfrentar um recrudescimento da oposição no Senado, reforçada agora por Renan e alguns de seus aliados.
Desde sexta-feira, Alcolumbre e aliados tentaram passar por cima do regimento do Senado e fazer uma votação aberta para escolha, o que praticamente eliminava as chances de sucesso de Renan, político que é alvo da Lava-Jato e vinculado à chamada “velha política”.
Na madrugada deste sábado, porém, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, mandou o Senado seguir o regimento e realizar a votação secreta, como estabelece o regimento e como sempre foi feito.
Mesmo assim, Renan não conseguiu converter em votos o propalado favoritismo que dizia ter nos bastidores.
Político com mandato desde 2001, quando tinha 23 anos, Alcolumbre foi vereador até 2002, deputado federal de 2003 a 2014 e senador desde então.
Em todos esses anos, quase nunca participou de movimentações políticas de relevo. Integrou, nesse período, o chamado “baixo clero” do Congresso, que é o grupo de parlamentares com pouquíssima projeção nacional.
O maior feito político de sua carreira foi desbancar em 2014 o candidato de José Sarney (MDB-AP) e se eleger senador pelo Amapá.
Nos últimos meses, Alcolumbre foi escolhido por Onyx como o nome para tentar barrar a volta de Renan, nome visto com desconfiança pelo núcleo bolsonarista.
A mulher de Onyx é assessora parlamentar de Alcolumbre.
O presidente do Senado é o terceiro na linha sucessória da Presidência da República e tem, entre outros poderes, o de definir a pauta de votações do plenário.
A votação foi encerrada sem quatro senadores —Renan Calheiros (MDB-AL), Jader Barbalho (MDB-PA), Eduardo Braga (MDB-AM) e Maria do Carmo (DEM-SE). Ao todo foram registrados 77 votos.
Renan Calheiros torna-se incógnita
Logo após desistir de sua candidatura à presidência do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL) negou que vá judicializar a eleição e deixou em aberto qual será sua relação com o governo Jair Bolsonaro, depois que um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) decidiu declarar voto em Davi Alcolumbre (DEM-AP), apoiado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Renan fez críticas a Davi e insinuou que ele se volte contra o STF (Supremo Tribunal Federal).
“Eu retiro a postulação porque entendo que o Davi não é o Davi, é o Golias. Davi sou eu. Ele é o Golias, atropela o Congresso. O próximo passo é o Supremo Tribunal Federal sem o cabo e sem o sargento”, afirmou Renan em entrevista, fazendo alusão a uma declaração de outro filho do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Renan criticou também o fato de Flávio Bolsonaro ter anunciado que votaria em Davi. Segundo o senador do MDB, Flávio foi pressionado a fazer isso.
“Estou saindo porque o voto foi declarado na forma do regimento como secreto. Eles abriram o voto. Na primeira votação, houve um equívoco, um voto a mais e, por conta disso, eles abriram o voto do PSDB para inibir quatro possibilidades de votos que tínhamos. Qual a lisura? E no final o filho do presidente fez questão de abrir o voto”, afirmou.
Questionado se diante da operação favorável a um candidato apoiado pelo governo criaria alguma dificuldade para o Palácio do Planalto, Renan Calheiros foi evasivo.
“Não estou analisando o governo, os desdobramentos. Estou analisando o que está acontecendo contra o Senado Federal, contra a Constituição e, agora, contra o Supremo Tribunal Federal.”
Indagado se havia renunciado por sentir que poderia perder, ele negou.