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Brasil Odebrecht tinha acesso a informações privilegiadas da Petrobras e o poder de influenciar licitações na estatal

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Influência de executivos da empreiteira culminou em um “teatro” para que o então presidente Lula colhesse dividendos políticos com a obra da Refinaria Abreu e Lima. (Foto: Paulo Campos/Folhapress)

A análise de documentos em poder da PF (Polícia Federal), que integram um dos inquéritos da Operação Lava-Jato que investigam a construtora Odebrecht, comprova declarações de delatores de que a maior empreiteira do País tinha acesso a informações privilegiadas da Petrobras e o poder de influenciar licitações da estatal. É o que mostrou um cruzamento feito pelo jornal O Globo entre e-mails trocados por diretores da construtora, apreendidos na investigação, e contratos de uma das principais obras da estatal no Brasil: a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

A influência de executivos da Odebrecht em uma das licitações da refinaria culminou em um “teatro”, nas palavras de um dos diretores grampeados, para que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva posasse entre tratores e colhesse dividendos políticos com a obra.

Em pelo menos duas mensagens de 2007, Rogério Araújo, então diretor da Odebrecht, hoje preso da Lava-Jato, traça uma estratégia para a participação da empreiteira na licitação para as obras de terraplenagem da Abreu e Lima, a partir de informações que teria obtido na estatal sobre o “orçamento interno” do projeto. A comparação dos e-mails com a cronologia da contratação do serviço revela que, naquele momento, o “orçamento interno” era uma informação confidencial da companhia petrolífera, cuja obtenção permitiria às concorrentes fraudar a licitação.

A concorrência para as obras de terraplenagem do terreno onde foi instalada a refinaria foi aprovada pela diretoria da Petrobras no dia 3 de maio de 2007, conforme documentos internos. No dia 10 de maio, a empresa convidou dez participantes. Pouco mais de um mês depois, no dia 18 de junho, Araújo enviou um e-mail para outros dois executivos da empreiteira relatando saber que o “orçamento interno” da Petrobras ficaria entre 150 milhões de reais e 180 milhões de reais, cifra que ele diz “que obviamente não dá”, por considerar muito abaixo da remuneração obtida no mercado para empresas por obras semelhantes.

Segundo a reprodução das mensagens no relatório da PF, Araújo indica que queria mais do que o dobro. Ele avisa que falou com “interlocutores” e que a “Engenharia” (uma provável referência à Diretoria de Serviços e Engenharia, de Renato Duque, também preso na Lava-Jato) já trabalhava na revisão do orçamento, como queria a Odebrecht. “A revisão do orçamento vai indicar um novo número, acima dos indicados acima”, antecipa. No texto, o diretor da empreiteira ainda registra que o valor só seria público na abertura das propostas, que aconteceria quatro dias depois.

No dia 22 de junho, a Petrobras recebeu seis propostas. A menor foi justamente a do consórcio liderado pela Odebrecht (com Camargo Corrêa, Galvão Engenharia e Queiroz Galvão, todas investigadas na Lava-Jato), de 433,5 milhões de reais. Segundo documento da diretoria da estatal, que aprovou a contratação do consórcio em 12 de julho de 2007, o valor ficou apenas 5,32% abaixo do novo “orçamento interno” da estatal. Araújo, ao que parece, logrou êxito: o valor estimado pela estatal, revelado quatro dias depois da troca de mensagens na Odebrecht, foi maior do que o dobro dos 180 milhões de reais que ele citou.

“Teatro para Lula”

O fácil acesso a informações da Petrobras fica claro em outro e-mail de Araújo, sobre uma cerimônia simbólica do início do contrato no terreno onde seria construída a refinaria, em Pernambuco, com a presença do então presidente Lula. Araújo explica que a assinatura do contrato se daria no Rio de Janeiro, mas que seria preciso criar um cenário de obra em andamento para Lula, no Recife (PE), em meio a tratores e máquinas. “Vai haver uma solenidade no Recife, no dia 16 de agosto, para dar início aos serviços de terraplenagem, com a presença do presidente Lula. Neste dia, teremos que ter alguns equipamentos já mobilizados, para fazer parte do ‘teatro’!”

A cena montada pela Odebrecht atrasou 19 dias. No dia 4 de setembro, Lula discursou sob intensa chuva no palanque montado pela construtora ao lado do então presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. “Temos uma verdadeira muralha da China para construir e vamos construir”, prometeu.

A Refinaria Abreu e Lima só iniciou operação em 2014 e custou pelo menos sete vezes o valor orçado inicialmente pela estatal. Laudo da PF sobre o contrato de terraplenagem detectou um sobrepreço de 106,1 milhões de reais no contrato de compactação de aterro. (AG)

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https://www.osul.com.br/odebrecht-tinha-acesso-a-informacoes-privilegiadas-da-petrobras-e-o-poder-de-influenciar-licitacoes-da-estatal/ Odebrecht tinha acesso a informações privilegiadas da Petrobras e o poder de influenciar licitações na estatal 2015-07-11
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