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Economia Os argentinos já estão sentindo no dia a dia o impacto da crise: A disparada do dólar provocou a alta nos preços dos produtos

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O dólar passou de uma cotação de 20,50 pesos para quase 22. (Foto: Freepik)

Em seu caderninho de anotações, o comerciante argentino Jorge Colazo, que há 30 anos tem uma loja de ferramentas no bairro de Palermo, corrige vários valores de produtos que precisa encomendar e que na última semana, segundo contou ao jornal O Globo, sofreram aumentos de até 12% empurrados pela disparada do dólar. Em seu sistema arcaico de contabilidade, Jorge, que atravessou e sobreviveu a todas as crises econômicas sofridas por seu país ao longo de três décadas, foi obrigado a atualizar os preços de muitos produtos importados, altamente sensíveis ao mercado cambial. A crise de confiança dos mercados, que levou o Banco Central da República Argentina (BCRA) a elevar sua taxa de juros de referência de 33,25% para 40%, injetar mais de US$ 7 bilhões no mercado para conter o dólar e o presidente Mauricio Macri a pedir socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI), provocou turbulências no dia a dia de muitos de argentinos.

No caso de Jorge, que votou em Macri nas eleições de 2015 e confessou estar “profundamente decepcionado”, os problemas são vários, mas principalmente o preço de insumos importados.

“Para você ter uma ideia, 30 quilos de cola para construção estava 156 pesos semana passada e agora subiu para 168 pesos”, comentou o comerciante, enquanto apagava e escrevia de novo em seu caderno.

Nos últimos dias, Jorge teve que atualizar grande parte de sua lista de preços, já que o dólar passou de uma cotação de 20,50 pesos para quase 22 (nesta quarta-feira chegou a bater 23 pesos para a compra, em algumas casas de câmbio). Ele não tem outra opção a não ser transferir esse aumento para o consumidor final e assim a Argentina caminha em direção a terminar o ano com uma inflação superior a 25%, uma das mais altas da região.

“Compras que eu já tinha fechado serão mantidas no mesmo valor, vou absorver a perda. Mas na maioria dos casos terei de aumentar, não tenho alternativa”, disse o comerciante, que hoje não tem capacidade de economizar, mas se pudesse o faria em dólares.

A pequena lojinha de Jorge, em Palermo, se manteve aberta até mesmo durante a hiperinflação de 1989, quando o país suportou um aumento de preços anual de 3.079%. A crise de 2001 também o prejudicou, principalmente pela grave recessão e queda abrupta do consumo (em 2002 o PIB caiu 10,9%). Depois de tudo isso, hoje, a sensação, assegurou, “é a de estar avançando em direção a mais uma crise, como tantas outras que já enfrentamos”.

“Sabe aquela sensação de ‘já vi esse filme’?”, perguntou. Hoje, Jorge admitiu que “pensaria muito bem antes de votar de novo em Macri. “Esperávamos outra coisa, pelo menos não repetir erros e situações do passado”, disse.

A crise desencadeada pela falta de confiança dos mercados num país que, como o próprio presidente admitiu, depende do financiamento externo, pode tornar-se trágica para muitos argentinos. Para o comércio, já é grave. O pequeno empresário Andrés Mendibil, dono de uma rede de seis lojas de objetos de decoração, vem notando uma redução expressiva do consumo desde o começo deste ano, e com as turbulências no mercado cambial enfrenta fortes reajustes na compra de produtos importados.

“Cerca de 60% do que vendemos vem de fora e na última semana os preços subiram em torno de 10%”, disse Andrés, que hoje tem 30 empregados e ainda mantém planos de abrir novas sucursais. “O ano começou difícil, eu diria que o consumo vem caindo em até 40%. Você percebe que as pessoas não têm dinheiro para gastar, sobretudo depois do dia 20 de cada mês”, afirmou o empresário.

Ele, como a grande maioria dos argentinos, sempre poupou em dólares e esse é um dos problemas estruturais do país. A Argentina depende de financiamento externo e os argentinos mantêm uma cultura de economizar em dólares, o que acentua ainda mais essa dependência. Quando as dúvidas começam a surgir, quem tem dinheiro para poupar se refugia na moeda americana.

Nos primeiros dois anos do governo Macri, existia um clima de relativa confiança que permitiu ao governo financiar-se nos mercados a taxas razoáveis e isso trouxe tranquilidade, também, no mercado interno. Hoje, com a Argentina praticamente fora dos mercados e obrigada a recorrer ao FMI, muitos argentinos acabaram sendo contagiados por esse temor a um novo colapso.

Os jovens voltaram a pensar em buscar um futuro melhor no exterior. É o caso de Lysandro Rodríguez, formado em paisagismo e que nos últimos oito meses optou por trabalhar algumas horas no Uber para complementar um salário cada vez mais baixo. “Estou avaliando seriamente me mudar para outro país, como México ou Espanha. Não vejo que a situação vá melhorar na Argentina e o custo de vida está cada vez mais caro”, disse o jovem, outro eleitor frustrado de Macri.

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