Terça-feira, 19 de março de 2024
Por Redação O Sul | 16 de julho de 2017
O Brasil deve ultrapassar os 240 milhões de toneladas de grãos neste ano. Mas e a renda do agricultor melhorou nessa safra recorde? Os agricultores de três regiões, revelam sua realidade.
Minas Gerais
Cautela é a palavra que mais se ouve em Minas Gerais. Uberaba, no Triângulo Mineiro, é a região responsável pela maior parte da soja e do milho produzidos no estado. Nos campos, o milho safrinha ainda está em final de cultivo.
Uma cooperativa, que reúne dois mil associados, o movimento dos caminhões é para a retirada da soja. O silo da cooperativa tem capacidade para armazenar 54 mil toneladas de grãos. Ele é dividido em três partes. A soja, que já estava vendida está sendo retirada para chegada do milho safrinha. Mas as outras duas partes estão cheias de soja até o limite.
O diretor da cooperativa explica que tem muito produtor segurando o produto à espera de preços melhores.
Thomaz Mendes e Silva plantou sorgo na safrinha. Ele estuda agronomia e comemora a produtividade que atingiu na safra de soja. Enquanto a média de produtividade das fazendas da região fica em 64 sacas por hectare a dele foi maior. “A média foi 72 sacas em uma fazenda”.
Em outra propriedade, em Conceição de Alagoas, cidade vizinha a Uberaba, os insumos para a próxima safra já foram comprados. A plantadeira, que está no galpão, foi adquirida no ano passado, mas o produtor estuda novas compras.
O milho que ainda está no campo não vai sair da fazenda. Vai virar silagem e alimentar o novo investimento: o rebanho de gado. O produtor também decidiu guardar a maior parte da soja colhida e espera por um preço melhor. Em um mês, a soja subiu quase 10% na Bolsa de Chicago por causa de problemas na safra norte-americana.
Mato Grosso
De cada quatro sacas de grãos produzidas no Brasil, pelo menos uma sai das lavouras de Mato Grosso, líder nacional na produção de soja, milho e algodão. A colheita da pluma está começando agora.
“Estamos acreditando em produtividade melhor, mercado melhor para que cubra os custos de anos anteriores em que a rentabilidade não foi tão boa”, diz o agricultor Herlan Meinke.
Mais renda, novos planos: com o lucro da safra, ele vai pagar contas passadas, investir no solo e tirar um sonho antigo do papel. “Adquirimos um terreno para poder fazer este investimento em uma indústria de benefício de algodão”, conta Herlan.
Quem também está feliz com a boa safra é o Adelar Ebert, gerente de fazenda. “Com certeza tinha um carro, troquei, peguei um melhor, já foi um sonho realizado”, conta.
Se no algodão os preços ainda ajudam a encorajar investimentos, no milho é o tamanho da safra que faz a diferença: quase 30 milhões de toneladas em Mato Grosso, um recorde. Na propriedade dos sócios Marcos Ioris e André Sabará, em Nova Mutum, a colheita começou melhor que na última safra. “Milho, ano passado, foi 90 sacas e este ano já estamos tendo uma produtividade de 115 sacas por hectare”, conta o agricultor Marcos Ioris.
O bom desempenho do milharal confirma 2017 como um ano indiscutivelmente bom para o pessoal da fazenda. É que na safra de verão as lavouras de soja também produziram bem mais do que no ano passado. Com a colheita farta, a rentabilidade da fazenda ficou na dependência de uma boa comercialização da produção, e ela aconteceu.
O dinheiro da safra também vai ser investido em agricultura de precisão e para atender a nova demanda, reforço na mão-de-obra. Uma consultoria da região, que hoje tem nove funcionários, vai crescer. “A gente contratou, na safra passada, e nessa safra a gente está contratando novamente, agora entre agosto e setembro estamos contratando mais duas pessoas”, conta o consultor Thiago Cândido.
Paraná
Em um sítio em Ivatuba, no Paraná, é hora de colher o milho segunda safra ou safrinha. A lavoura pertence a três famílias de pequenos agricultores, cada um com 45 hectares. As três famílias, que são parentes, desfrutam a vida no campo com conforto: carro na garagem e casa boa, como a casa da Júlia e Nivaldo Zacanini.
O maior gasto este ano, está num tratamento dentário, que Nivaldo está fazendo: um implante que custa caro. “Só esse ano tive que gastar R$15 mil, fora o raio-x. Isso tudo com dinheiro da roça”, conta Nivaldo Zacanini.
Já na família da vizinha e agricultora Adenilce Acceti, o dinheiro desta safra vai aliviar, e muito, o peso do que ela já gasta com a educação do filho. Além da faculdade de agronomia do filho, a Adenilce também resolveu realizar um velho sonho, e entrou para faculdade de pedagogia. “Isso era meu maior sonho, estudar e ter uma faculdade. Somando as despesas chegam a R$ 3 mil por mês, e o dinheiro vem todo da roça”, fala Adenilce.
Os comerciantes da região confirmam: quando a safra vai bem, a cidade ganha. (AG)