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Por Redação O Sul | 19 de novembro de 2017
Uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que os negros estão mais expostos à violência no Brasil. Eles representam 54% da população do País, mas totalizam 71% das vítimas de homicídio.
O levantamento mostrou que o abismo entre brancos e negros aumentou na última década. Entre os mortos nos homicídios registrados de 2005 a 2015, o número de brancos caiu 12%, e o de negros aumentou 18%.
“Nós temos um legado histórico que nunca foi enfrentado”, disse Samira Bueno, coordenadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “São mais de três séculos de escravidão e nós nunca direcionamos, de forma efetiva e consistente, políticas públicas para tirar essa população negra, que foi escravizada por tanto tempo, dessa situação de vulnerabilidade”, completou.
Nesta semana, um ator negro foi vítima de racismo e violência em São Paulo. Diogo Cintra, 24 anos, ainda exibe as marcas da violência pelo corpo: pés, braços e rosto marcados pelas pauladas, socos e mordidas de cachorro. Cintra conta que voltava de uma festa da companhia de teatro na qual trabalha quando foi abordado por dois homens exigindo que ele entregasse o celular e dinheiro. Como estava perto do terminal onde pegaria o ônibus, o ator correu para pedir apoio aos vigilantes do local.
“Cheguei no terminal pedindo ajuda para a vigilância e a vigilante falou: ‘Corre, sai daqui. A gente não tem como fazer nada, só corre'”, relatou. Cintra afirmou que, após entregar o celular aos bandidos, foi “entregue” pelo segurança aos assaltantes, que teriam dito que o ator havia tentado assaltá-los e o levaram para fora do terminal.
Um dos vigilantes chegou a perguntar aos rapazes o que eles fariam. “Falaram que iam me levar para o rio que tem ali do lado. Comecei a me debater de desespero e os caras começaram a me bater. Socos, chutes, bater com pau”, relatou. Os criminosos estavam com cachorros.
A Polícia Civil investiga a agressão a Diogo. A SPTrans (São Paulo Transporte) afirmou, por meio de nota, que solicitou esclarecimento à SPURBANUSS, responsável pela administração do Terminal Parque Dom Pedro II, e que “vai colaborar com as autoridades para elucidar os fatos”. “A SPTrans repudia quaisquer atos de agressões e racismo e, se comprovadas as denúncias, solicitará o afastamento imediato dos envolvidos”, disse a empresa.
Desemprego
Dos 13 milhões de brasileiros que estavam desempregados no terceiro trimestre deste ano, 8,3 milhões (63,7%) eram pretos ou pardos. É o que aponta a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada na sexta-feira (17) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
De acordo com o IBGE, o dado indica que a taxa de desocupação dessa parcela da população ficou em 14,6%, enquanto a da população branca foi de 9,9%. “As pessoas pretas e pardas estão sempre em desvantagem no mercado de trabalho, desde a inserção a depois de se inserir. São desigualdades que a gente já conhece, mas é sempre bom lembrar”, disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.