Quinta-feira, 18 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 3 de julho de 2017
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Ante o bombardeio de notícias referentes a Michel Temer e ao seu governo, há um quadro de permanente deterioração.
Sente-se que o presidente sofre uma hostilidade da imprensa publicada, para o que a formação de sua equipe contribuiu muito. A velhíssima máxima (diz-me com quem andas que dir-te-ei – mesóclise em homenagem ao estilo barroco presidencial – quem és”) cabe na montagem do ministério de S.Exa.
Afastada – legalmente, diga-se de passagem – Dilma, sentiu-se no país que uma brisa de esperança ajudava a que se fizesse crer em tempos novos que estariam por implantar-se embalados pela rejeição ao PT e a seus malfeitos, resultados do somatório da incompetência com a corrupção.
Seria um momento precioso a ser aproveitado pelo novo presidente, que não fora eleito precipuamente por partidos. A História lhe oferecia a oportunidade de sair da penumbra da vice-presidência e numa alvorada renovadora chamar os mais aptos e mais éticos para acompanha-lo a repor o País nos trilhos.
Ledo engano. A voracidade pelo poder proporcionou espetáculos de mimetismo e metamorfose de políticos (com “p” bem minúsculo), que, no balcão improvisado dos favores e dos comprometimentos pressupõem ilícitas vantagens, chegaram a ser ministros de Dilma e também o são ou foram de Temer.
Fez-se no “Diário Oficial”, um verdadeiro balê de turbada miscigenação, com nomes e cargos. Surgiram os nomeados para assumir áreas fundamentais, geralmente para as quais eram (e são), reconhecidamente, despreparados.
Rolou por terra a expectativa de um ministério de notáveis. Não se deu nenhum espaço à meritocracia.
E foi por essa porta do “toma lá, da cá” que passou o cortejo da carência de qualidade acompanhada da corrupção epidêmica.
Quem viera, para sanear, parecia contaminado com a mesma enfermidade que atacara, maciçamente, nos treze anos de governo petista.
Ficou tão confuso o quadro que se atingiu que pareceu ser o máximo em termos de absurdo, no processo e no julgamento por crime eleitoral, de Dilma e Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ou, se não, vejamos:
a) O PSDB, que denunciara a presumida fraude da chapa, no meio do caminho, ganhou 4 ministérios e, ao invés de tentar a cassação, seguindo o ensinamento de São Francisco (é dando que se recebe) trocou, desavergonhadamente, de lado;
b) as provas trazidas ao processo do TSE – a maioria na Lava-Jato colhidas – e muito comprometedoras, foram simplesmente desconsideradas por uma filigrana processual quase mafiosa;
c) vamos deixar o TSE e recordar trapalhadas e outras situações malcheirosas:
c.1) Senador Jucá, com uma bagagem sortida de situações mal explicadas, sempre fiel ao governo de plantão, foi ministro por 24 horas. Seu currículo, ornamentado com suspeitas de delitos muito prováveis, é recheado de inquéritos. Era demais: aparentemente, saiu sem entrar mas, como prêmio, virou líder de Temer no Senado;
c.2) o então ministro da Cultura Marcelo Calero, sentindo-se ameaçado pelo então ministro “não sei bem do que” e integrante cativo da “panelinha”, Geddel Vieira Lima, que o teria ameaçado para que cometesse uma ilicitude que beneficiaria o ministro baiano, “amigo do peito da gente do andar de cima” foi ao presidente pedir apoio. Resultado: saíram os dois, porque o presidente não se animou a separar o joio do trigo.
c.3) No caso do Ministério da Justiça, Temer, ante a vaga de Alexandre de Moraes (foi nomeado ministro do STF), alegando-se retoricamente que o cargo seria da bancada paranaense do PMDB da Câmara repôs nas manchetes o Deputado Serraglio que, tivera, na Lava-Jato, lembrado seu nome em investigações ainda não concluídas. Estrategicamente, o parlamentar submergiu para ver se esqueciam dele.
c.4) Mas Temer lembrou. Queria tira-lo da Câmara mais do que bota-lo no Ministério. E por que? Porque precisava de sua vaga na Câmara para ocupa-la com um suplente. Quem? Rocha Loures, tido como braço direito em certas articulações do porão dos Palácios. Rocha Loures assumiu e ganhou os direitos de parlamentar.
c.5) No entanto, nesse mar de inconsequências e desrespeito a um mínimo de integridade, Temer decidiu que precisava de um ministro da Justiça com bom trânsito nas rodas forenses de BSB e, sem aviso prévio a Serraglio, convidou para o cargo Torquato Jardim que, sem titubear, aceitou.
c.6) Ao depois, o presidente quis convencer Serraglio a virar ministro da Cultura. O paranaense, sentindo-se desrespeitado, não aceitou e deu o troco. Voltou para a Câmara e, com isso, o parceiro de Temer – Rocha Loures – voltou para a suplência, e andou correndo na rua com a mala famosa na mão, até ser preso.
E há mais. Muito mais.
Apesar de tudo, ainda acho que Temer dificilmente cairá. Tem, por enquanto, os votinhos que, na Câmara, impediriam o processo de cassação.
E então, hão de se perguntar os leitores? O que vai ocorrer? Saber mesmo, ninguém sabe. Vamos tentar adivinhar juntos: de olho nas surpreendentes peraltices do FHC, na temperatura do forno da macro pizza nacional, para a qual não faltam pizzaiolos voluntários; no bale de um “acordão”, com grandes piruetas de parlamentares sempre a favor dos ventos dominantes; tentando entender o papel dos super corruptores e corruptos irmãos Batista, feitos multimilionários nos governos Lula e Dilma, com sócios de “família poderosa”, ainda “ocultos” e que, criminosos declarados, gozam de tratamento oficial protetor, como figuras destacadas, nesse deserto de verdadeiras notabilidades, triste e revoltante paisagem de nosso sofrido País.
Há muito mais, infelizmente, mas o espaço acabou!
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.