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Por Redação O Sul | 4 de fevereiro de 2019
Um grupo formado por quatro países de maioria islâmica e pelo governo palestino quer enviar ao Brasil seus chanceleres para discutir com a gestão do presidente Jair Bolsonaro a promessa de mudança da embaixada do País em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
A iniciativa é encabeçada pela Turquia, que comunicou ao Itamaraty que Malásia, Indonésia e Jordânia, além da Palestina, também estão dispostos a enviar seus respectivos ministros das relações exteriores a Brasília.
O objetivo da comitiva é transmitir ao governo Bolsonaro a mensagem de que uma eventual transferência para Jerusalém da missão diplomática brasileira em Israel sofre forte resistência não apenas no mundo árabe.
A Indonésia, por exemplo, está localizada entre o Sudeste Asiático e a Oceania e é o maior país de população islâmica no mundo.
Pessoas envolvidas nas negociações disseram que a Turquia propôs ao Itamaraty que a visita dos chefes da diplomacia desses países ocorresse entre os dias 7 e 8 de fevereiro. O agendamento não foi possível porque o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, estará fora do País nessas datas.
Nesta segunda-feira (4), ele participa de uma reunião do Grupo de Lima, no Canadá, para discutir a crise na Venezuela. Depois, Araújo realizará uma visita aos Estados Unidos. De acordo com um interlocutor que segue as tratativas, o Itamaraty sugeriu então que o encontro ocorresse na semana seguinte à data proposta inicialmente.
No entanto, pessoas que acompanham o tema afirmaram que ainda não houve resposta. Turquia, Malásia, Indonésia e Jordânia são membros da Organização para a Cooperação Islâmica. Essa entidade intergovernamental tem entre as suas principais bandeiras a defesa das reivindicações da Palestina no âmbito do conflito com Israel.
Questionado sobre o tema, o Ministério das Relações Exteriores confirmou que foi procurado por esses países sobre a possibilidade de uma visita dos chanceleres. O Itamaraty disse, ainda, que está em contato com eles para tentar encontrar uma data alternativa que possibilite a realização do encontro.
Promessa de campanha
Retirar a embaixada brasileira de Tel Aviv e transferi-la para Jerusalém é uma promessa de campanha de Jair Bolsonaro. Na prática, significaria um respaldo ao pleito de Israel de ter Jerusalém reconhecida como sua capital. Já o mundo árabe e os países de maioria islâmica defendem que a porção oriental da cidade seja a capital de um futuro Estado da Palestina.
Antes da eleição de Bolsonaro, o Brasil adotava a posição de que o status final de Jerusalém só deve ser definido após negociações que garantam a existência dos dois estados.
Os Estados Unidos mudaram a sua embaixada em Israel para Jerusalém em maio de 2018. Até agora, apenas a Guatemala acompanhou o gesto dos norte-americanos. Os demais países mantêm suas missões diplomáticas em Tel Aviv. Embora seja apenas uma promessa, o tema já gerou reações no plano internacional.
Um alto funcionário da diplomacia saudita teria dito recentemente ao embaixador do Brasil em Riad, Flavio Marega, que a Arábia Saudita considera “preocupante” e “desagradável” uma possível mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém.
Em outra frente, uma delegação da União de Câmaras Árabes esteve em Brasília na última semana e se reuniu com o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) e com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM).
O secretário-geral da organização, Khaled Hanafy, disse ao vice-presidente e à ministra que produtos brasileiros podem ser boicotados por consumidores árabes caso Bolsonaro leve adiante a promessa de transferir a embaixada em Israel para Jerusalém.
O assunto gera debates internos no governo. Na segunda-feira (28), o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) disse que, por enquanto, o governo não avalia mudar a embaixada em Israel de endereço.
Na última sexta-feira, o ministro Ernesto Araújo disse que uma eventual transferência da embaixada do Brasil em Israel não deve ser visto como algo contrário a países que defendem as reivindicações da Palestina.
“Qualquer que seja a decisão, temos a determinação muito clara de que não seja vista como uma atitude contra países vizinhos de Israel, países árabes, contra países de maioria islâmica ou qualquer coisa desse tipo”, declarou Araújo.
“A decisão seria parte de um processo de elevação do patamar da relação com Israel, isso sim uma determinação, independentemente da mudança ou não da embaixada”, acrescentou o chanceler.
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, esteve no Brasil para a posse de Bolsonaro. Após se reunir com o então presidente eleito, o israelense afirmou ter ouvido de Bolsonaro que a transferência da embaixada era uma questão de tempo. Desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, ele foi o primeiro premiê do país a visitar o Brasil.