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Por Redação O Sul | 23 de setembro de 2018
Diariamente, absorvemos diferentes contaminantes presentes não só no ar, na água e em alimentos, mas também em diferentes produtos – de garrafas plásticas, detergentes, papéis emitidos pela máquina de cartão de crédito a esmaltes, sabonetes e plástico filme. Conhecidas como “desreguladores endócrinos”, algumas destas substâncias podem interferir na síntese e ação de hormônios, responsáveis por funções como metabolismo, crescimento, desenvolvimento, reprodução, sono e estado de ânimo.
A fim de verificar o nível de exposição de crianças brasileiras a essas substâncias, um grupo de pesquisadores analisou a concentração de 65 desreguladores endócrinos em urinas de 300 crianças das cinco regiões do País, com idades entre 6 e 14 anos.
Segundo a pesquisa, os compostos químicos associados ao uso de cosméticos, produtos de cuidado pessoal e plásticos foram encontrados em concentrações elevadas, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do País. “Os dados da pesquisa mostram que crianças brasileiras estão expostas a alguns desreguladores hormonais em concentrações maiores do que aquelas encontradas em países como EUA, Canadá e China”, disse Bruno Alves Rocha, pesquisador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e autor do estudo, publicado na revista científica Environmental International.
Conforme a rede BBC News Brasil, a pesquisa apontou que a maioria dos desreguladores relacionados ao uso de cosméticos e produtos de cuidado pessoal foram encontrados em maior concentração nas meninas.
Esta diferença chegou ao dobro em algumas substâncias – como o triclosan (presente em desodorantes e sabonetes antibacterianos), alguns parabenos (conservantes) e alguns benzofenonas (utilizados principalmente na formulação de esmaltes e presentes em protetores solares, produtos de maquiagem e produtos de cabelo).
Além de compor fragrâncias em produtos como sprays de cabelo, loções pós-barba, sabões, xampus e perfumes, os ftalatos também são usados como solventes e na fabricação de plásticos, estando presentes em produtos de limpeza, resinas e principalmente em plásticos (como o policarbonato, plástico filme, embalagens e brinquedos).
A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) disse que “não está claro o efeito dos ftalatos na saúde humana”. E a Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) disse que ainda são necessários estudos científicos para entender “quando, onde e como usar seguramente cada substância”.
“Muitas [dessas substâncias] propiciaram melhorias e progressos ao longo do século 20, mas ainda precisamos investigar os impactos sobre a saúde humana, principalmente quando elas estão associadas”, diz Denise de Carvalho, médica e professora de biofísica da UFRJ.
Estudos recentes investigam impactos de desreguladores endócrinos sobre o sistema reprodutor humano. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Rochester, em Nova York, apontou que alguns ftalatos bloqueiam a ação do hormônio masculino testosterona em bebês, interferindo no desenvolvimento genital e cerebral de meninos.
Em 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a presença do bisfenol A (usado na produção de plástico policarbonato) em mamadeiras destinadas a crianças de até 12 meses. “Hoje sabemos que essa substância está associada à diabete mellitus e obesidade infantil, além de poder causar puberdade precoce e alterações na tireoide”, afirma Carvalho.
A Anvisa disse adotar os limites apontados em avaliações conduzidas por autoridades internacionais e que as listas de substâncias permitidas são resultado de uma “harmonização entre os Estados do Mercosul e estão de acordo com o que está sendo praticado em outros países ou blocos, como Estados Unidos e Europa.”
Como se prevenir?
Ações cotidianas podem contribuir para diminuir a exposição a desreguladores endócrinos. “É fundamental ler os rótulos dos produtos e procurar evitar aqueles que tenham desreguladores em sua composição. Principalmente mulheres grávidas, já que elas podem armazenar essas substâncias no tecido adiposo e liberar para o feto através da placenta”, diz a médica Denise de Carvalho.
Outra recomendação se refere ao cuidado com o manuseio de embalagens de alimentos. “A contaminação dos alimentos pode ocorrer a partir de fissuras causadas nas embalagens”, explica a endocrinologista pediátrica Angela Maria Spinola.
Por isso, é recomendado não esquentar ou congelar alimentos em recipientes ou embalagens plásticas, priorizar vidro em vez de plásticos e evitar o consumo de alimentos enlatados (cuja embalagem é revestida de bisfenol A).