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Por Redação O Sul | 31 de agosto de 2016
Ao ouvir a palavra “transgênicos”, algumas pessoas sentem calafrios, e mesmo quem gosta de ciência e biotecnologia tem um pé atrás com os organismos geneticamente modificados. O cenário foi mostrado por uma pesquisa realizada pelo Ibope Conecta, que coletou pela internet as respostas de 2.011 pessoas, de todas as regiões do País, das classes A, B e C e que não trabalham com biotecnologia ou áreas correlatas. A pesquisa foi encomendada pelo CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia).
A maioria (cerca de 80%) gosta de ciência e soube responder o que são transgênicos, mas 33% acham que consumi-los pode fazer mal. Isso apesar da pesquisa publicada pela Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos que concluiu, após analisar mais de mil estudos, que os organismos geneticamente modificados, existentes desde a década de 1970, não só não trazem riscos à saúde como, se usados corretamente, propiciam benefícios para os agricultores e para o meio ambiente.
Os pesquisadores não encontraram qualquer evidência de que esses organismos tiveram impacto sobre as prevalências de câncer, obesidade, diabetes, autismo, doença celíaca ou alergias. Não é claro, no entanto, se a tecnologia realmente aumenta a produtividade da agricultura. Para Adriana Brondani, diretora-executiva do CIB, “houve uma falha de comunicação do agronegócio, dos cientistas e da sociedade”. “A propaganda contrária ganha aderência porque há um hiato de conhecimento da população por causa da falta de informação”, aponta.
Desconhecimento.
A pesquisa mostra que as pessoas nem sabem quais são as plantas transgênicas cultivadas no País – soja, algodão e milho, principalmente. Só 11% acertaram a combinação. O motivo de tão poucas espécies é a rentabilidade de cada uma delas, explica a professora Maria Lúcia Vieira. “É igual à indústria automobilística. Se não tiver lucro, não vende. Por isso há poucos e a área plantada é tão grande. Também há uma vantagem para o agricultor, que planta a semente da planta transgênica e depois passa o herbicida – o mato morre e a planta de lavoura, não”, observa.
A inserção ou substituição de um gene em uma espécie pode fazer com que ela, por exemplo, seja mais resistente a intempéries, herbicidas ou pragas – ou fazer com que ela própria produza um larvicida, caso do milho Bt (abreviação do organismo doador Bacillus thuringiensis, que produz naturalmente uma proteína larvicida). Talvez a raiz do problema dessa relutância popular esteja na primeira variante transgênica de soja, hipotetiza Maria Lúcia.
“A Monsanto tinha tanto a semente quanto a molécula para a qual a planta era resistente [o agrotóxico glifosato]. Foi um erro vender as duas coisas. Não houve um trabalho de conscientização, de que a tecnologia dos transgênicos não tem necessariamente a ver com herbicidas.” Segundo a professora, apesar de haver alarde, as pessoas não deveriam se preocupar por ingerir transgênicos. “Os produtos comercializados são absolutamente seguros.”
Animais são os maiores consumidores de transgênicos.
A principal destinação de milho, soja e algodão (além de tecido, no caso do último), é a alimentação de porcos, galinhas e gado bovino, explica. “O frango nosso de cada dia é alimentado com o milho transgênico. O susto também não faz sentido porque quem consome a maior parte dos transgênicos são os animais.”
Na pesquisa, muita gente reagiu mal ao ser informada que ingere DNA – 73% se disseram preocupadas. Mesmo entre as que gostam de ciência, o número não foi muito mais baixo, 57%.
A molécula de DNA está presente em todo tipo de alimento que um dia foi vivo. Ao ser digerido, esse DNA é “reciclado” para formar o DNA de nossas próprias células. E o DNA transgênico é tão DNA quanto o “original”. O risco carregado pelos transgênicos não está no “excesso” de DNA (apenas mais um gene entre milhares) e, sim, no metabolismo da planta. (Folhapress)