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Saúde Menor Pessoas com alto risco genético para o desenvolvimento do Alzheimer podem apresentar sintomas ainda no começo da vida, durante a infância

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Desde 2009, dezenas de pesquisadores da Ufrgs, da USP e da Unifesp, acompanham o amadurecimento de 2.500 crianças. (Foto: Reprodução)

Responsável por 60% dos casos de demência, o Alzheimer é visto como uma doença que assombra o fim da vida. É um mal prevalente entre os idosos e, em geral, seus primeiros sintomas são percebidos perto da terceira idade. Um novo estudo, conduzido por pesquisadores brasileiros, no entanto, questiona essa noção. De acordo com o trabalho, pessoas com alto risco genético para o desenvolvimento da doença podem apresentar sintomas ainda no começo da vida, durante a infância. A nova hipótese, defendida pelos brasileiros, é ousada: a de que o problema não começa com a degeneração do cérebro que envelhece, mas surge ainda na formação do cérebro, que se desenvolve de maneira errada.

“A gente entende que essa é uma proposta polêmica”,  disse Giovanni Salum, professor da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul e um dos autores do trabalho, recém- publicado no American Journal of Psychiatry, publicação científica importante do setor.

Salum e seu time decidiram sustentar a hipótese depois de conduzir uma pesquisa de fôlego. Desde 2009, ele e outra dezena de cientistas da Ufrgs, da USP (Universidade de São Paulo) e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), acompanham o amadurecimento de 2.500 crianças, com idades que tinham entre 6 e 14 anos no início da pesquisa, recrutadas em escolas de São Paulo e Porto Alegre. Parte delas – 1.500 – tem histórico de doenças psiquiátricas na família, males como esquizofrenia e transtorno bipolar. A ambição é segui-las até a idade adulta para tentar identificar se nos primeiros anos de vida há sinais de que desenvolverão transtornos psiquiátricos no futuro. E se há formas de prevenir sua ocorrência.

 O acompanhamento por anos de grupos de pessoas compõe o que os cientistas são chamados de estudo de coorte. Segundo o neurocientista Rodrigo Bressan, da Unifesp, é a melhor estratégia de que a medicina dispõe para fazer descobertas. “Você só descobre que o cigarro faz mal quando acompanha a pessoa antes de fumar, enquanto fuma, e depois de adoecer”, diz Bressan, coordenador do projeto.

No caso de males psiquiátricos, o raciocínio é o mesmo. Coortes com esse fim são tradição nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. De acordo com Bressan, o grupo brasileiro foi o primeiro a surgir num país em desenvolvimento.

Para estudar o Alzheimer, os pesquisadores se valeram de três ferramentas: testes de DNA, testes de cognição e exames de imagem, que avaliam a morfologia do cérebro. A primeira ferramenta permitiu descobrir qual o risco genético de cada criança desenvolver Alzheimer. Vários genes influenciam no surgimento da doença, e as chances aumentam proporcionalmente ao número deles no DNA de um indivíduo. Já os testes de cognição avaliaram a memória das crianças. Numa das atividades, os participantes observaram uma figura impressa e, minutos depois, tiveram de reproduzir o desenho. Pouco mais de 700 crianças passaram por essas avaliações. Os cruzamentos dos resultados surpreenderam.

“A gente percebeu que, quanto maior o risco genético, pior o desempenho cognitivo”,  diz Salum.

Os pesquisadores também notaram que, no caso de 70 crianças em risco genético elevadíssimo havia alterações no hipocampo – região do cérebro relacionada à memória, e que tende a diminuir em pacientes diagnosticados com Alzheimer. Nessas crianças, a diminuição já era perceptível.

Para ser comprovados, os achados dos brasileiros ainda precisam ser replicados por outros pesquisadores, com outros grupos, coisa que vai levar muito tempo. Para as crianças examinadas, os resultados parciais podem não significar nada. Apesar das alterações detectadas, não há garantias de que elas desenvolverão Alzheimer na idade adulta. Para a ciência, no entanto, esses achados são valiosos, pois podem modificar a forma como se pensa a doença, apontar para novas estratégias de prevenção e indicar novos caminhos de investigação de um mal ainda pouco compreendido.

A visão tradicional do Alzheimer entende que, a partir de dado momento na vida, um cérebro maduro e saudável começa a perder habilidades, se degenera. A hipótese lançada por Salum e seus colegas inverte essa lógica. Ao mostrar que alterações na forma e no desempenho do cérebro ocorrem ainda na infância, o estudo sugere que a enfermidade possa resultar de um desvio na forma como o cérebro se desenvolve e amadurece.

O Alzheimer foi descrito pela primeira vez em 1906, pelo médico alemão Alois Alzheimer, depois de examinar o cérebro de uma paciente que sofria com a demência. Mais de um século passado, ainda não se sabe com clareza o que provoca a enfermidade. A análise do cérebro de pessoas que sofreram com a doença mostrou que ela evolui conforme se acumulam placas de uma proteína chamada beta-amilóide, produzida até mesmo em pessoas saudáveis. Em abundância, essas placas interrompem as conexões entre as células nervosas, e provocam a morte dos neurônios. O processo diminui o volume cerebral. Mas ainda há várias lacunas no entendimento desse processo. A ciência não sabe explicar o porquê, tampouco entende qual gatilho provoca a acumulação da proteína deletéria.

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