Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 6 de dezembro de 2018
Meng Wanzhou, chefe de operações financeiras da Huawei, gigante chinesa de telecomunicações, foi presa em Vancouver, no Canadá, e deve ser extraditada para os Estados Unidos. Os detalhes da prisão, efetuada em 1° de dezembro, não foram divulgados. Mas a empresa chinesa é alvo de investigações do governo americano sobre possíveis violações de sanções contra o Irã.
A China exigiu a libertação da executiva, alegando que a prisão foi possivelmente “uma violação de direitos humanos”. Filha do fundador da companhia, Wanzhou também é vice-presidente do conselho consultivo da empresa. A Huawei informou que tem pouca informação sobre as acusações e “não tem conhecimento sobre nenhuma infração cometida por Meng Wanzhou”.
A prisão acontece em um momento delicado para as relações entre os Estados Unidos e a China. Os dois países travam uma guerra comercial em que já foram impostos bilhões de dólares em tarifas sobre produtos.
O incidente tampouco ajudará na trégua de 90 dias negociada pelo presidente americano, Donald Trump, e seu colega chinês, Xi Jinping, durante a reunião do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), em Buenos Aires. E coincide ainda com a movimentação para restringir o uso da tecnologia da Huawei em países do Ocidente. Os Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia proibiram a empresa chinesa de fornecer a infraestrutura para a rede de internet móvel 5G.
O Reino Unido não impediu as empresas de usarem a tecnologia da Huawei, mas a BT (British Telecom), que domina a rede de telecomunicações do Reino Unido, declarou nesta semana que não utilizará os equipamentos da companhia na implantação do seu “núcleo” de infraestrutura 5G.
O que o Canadá disse sobre a prisão
O Ministério da Justiça do Canadá confirmou a data e o local da prisão de Wanzhou. E acrescentou: “Os Estados Unidos pediram a extradição (de Wanzhou), e uma audiência para fiança foi marcada para sexta-feira.”
O departamento afirmou que não poderia dizer mais nada, uma vez que Wanzhou solicitou a proibição da divulgação de detalhes do caso e isso foi acatado pelos tribunais. Um porta-voz do Departamento de Justiça dos EUA, no distrito leste de Nova York – que teria feito as acusações, segundo a Huawei – se recusou a comentar.
O que pode estar por trás
A imprensa americana informou que a Huawei está sendo investigada por possíveis violações das sanções dos EUA contra o Irã. Uma reportagem do jornal New York Times afirma que os departamentos de comércio e tesouro dos Estados Unidos haviam intimado a empresa por suspeita de violação das sanções do país contra o Irã e a Coreia do Norte.
Legisladores americanos acusaram repetidas vezes a empresa de ser uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos, argumentando que o governo chinês poderia usar sua tecnologia para espionagem.
Após a prisão, o senador americano Ben Sasse disse à agência de notícias Associated Press que a China estava agressivamente engajada em comprometer os interesses de segurança nacional dos EUA, “usando entidades do setor privado” com frequência. “Os americanos agradecem a nossos parceiros canadenses por terem prendido a diretora financeira”, acrescentou.
Como a Huawei reagiu?
A Huawei disse que Wanzhou, filha de Ren Zhengfei, fundador da companhia, foi detida durante a conexão de um voo em Vancouver.
Em comunicado, a empresa afirmou que cumpriu “todas as leis e regulamentações aplicáveis onde opera, inclusive as leis e regulamentos de controle de exportação e sanções da ONU (Organização das Nações Unidas), Estados Unidos e União Europeia”. “A empresa acredita que os sistemas jurídicos do Canadá e dos Estados Unidos vão chegar a uma conclusão justa.”
E a China?
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China disse aos jornalistas que “prender sem dar qualquer motivo viola os direitos humanos de um indivíduo”. “Fizemos representações sérias ao Canadá e aos Estados Unidos, exigindo que ambas as partes esclareçam imediatamente as razões da detenção e a liberem imediatamente para proteger seus direitos legais.”
A embaixada chinesa no Canadá afirmou, por sua vez, que autoridades canadenses, a pedido dos Estados Unidos, haviam prendido uma cidadã chinesa que “não violou nenhuma lei americana ou canadense”. “As autoridades chinesas apresentaram representações duras aos Estados Unidos e ao Canadá, e solicitaram que corrijam imediatamente as irregularidades e restabeleçam a liberdade individual de Meng Wanzhou”, diz a nota.
A empresa chinesa é uma das maiores fornecedoras de equipamentos e serviços de telecomunicações do mundo – recentemente, passou a Apple para se tornar a segunda maior fabricante de smartphones depois da Samsung.