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Por Redação O Sul | 6 de fevereiro de 2016
Quando estava na faculdade, nos Estados Unidos, Jackson Katz fazia parte do time de futebol americano. Foi lá que ele aprendeu que um “homem de verdade” precisava ser “forte”, “durão” e “macho”.
Mas por não concordar com esse pensamento – e por entender que o número crescente de casos de abuso e violência sexual contra mulheres nas universidades americanas estava diretamente ligado a ele –, Katz decidiu formar um grupo de homens universitários para combater essa cultura. E o nome escolhido para o grupo foi “Homem de Verdade”.
Os anos se passaram e, depois de formado, Katz foi se aprofundando nos estudos sobre essa questão até criar um treinamento para combater o machismo e a violência contra a mulher no ambiente universitário. Foi assim que surgiu, em 1993, o “MVP” – Mentors in Violence Prevention (Mentores na Prevenção da Violência, na tradução livre) –, programa aplicado em equipes esportivas e instituições universitárias para ensinar os homens a serem lideres proativos contra o sexismo.
O programa – que hoje tem como público-alvo tanto homens quanto mulheres – fez sucesso e já foi expandido para outras instituições universitárias e até para forças armadas dos Estados Unidos, Alemanha, Iraque e Japão, entre outros.
O método do treinamento é focado em dois objetivos: primeiro em conscientizar as pessoas sobre os males do sexismo, depois em inspirar uma mudança de comportamento delas baseada na “abordagem do espectador”.
Cultura machista.
Katz começou o ativismo para combater a “cultura machista” ainda na década de 1980 e hoje coleciona inúmeras palestras em mais de 30 países – incluindo sua fala no TED, conferência de projetos e ideias inovadoras, que já teve mais de 1,2 milhão de visualizações.
Em visita ao Brasil, recentemente, para participar do Fórum “Fale sem medo” organizado pelo Instituto Avon, ele falou sobre a importância de ampliar o debate sobre “questões de gênero” também para os homens.
“Quando falamos em gênero, muita gente já associa essa palavra diretamente à mulher. Mas homem também é gênero. E a cultura machista também é prejudicial a ele. O mesmo sistema que produz homens que abusam de mulheres, produz homens que abusam de outros homens”, afirmou.
“Nós sempre combatemos esse problema ensinando as mulheres a se protegerem, como se vestirem, o que devem evitar. Mas precisamos de novas formas de pensar isso. A questão não é ensinar as mulheres a se protegerem. É acabar com a cultura que ensina os homens a abusá-las”, completou.
Para conseguir essa mudança de cultura, Katz defende a importância de mais homens se juntarem à causa. “As mulheres são protagonistas e a liderança delas tem sido transformadora. É a base de tudo. Mas é preciso pensar que os homens ainda detêm o poder político, econômico e social no mundo.”
“O meu trabalho é pensar em como eu, como homem, posso usar o acesso que tenho a instituições políticas, sociais e econômicas, para, trabalhando em parceria com mulheres, mudar essa realidade. E precisamos de mais homens que pensem da mesma forma.”
“Eu costumo dizer para os homens nos meus treinamentos e palestras: se você acredita em democracia, você acredita em justiça, em igualdade e, consequentemente, em feminismo, ponto final. Então se você se diz a favor da democracia, mas não é a favor do feminismo, ou você não entende o que é feminismo, ou você não entende o que é democracia.”