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Mundo Primeira missão brasileira no Egito prepara a escavação de uma tumba

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Missão coloca o Brasil no circuito da produção científica internacional. (Foto: Divulgação)

Pela primeira vez, o Brasil comanda uma missão arqueológica no Egito. O trabalho, liderado por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), pretende desvendar, no início do ano que vem, os segredos de uma tumba construída cerca de 1,5 mil anos antes de Cristo na antiga região de Tebas, hoje Luxor, no sul do país. As informações são do jornal Estado de S. Paulo.

“Existem arqueólogos brasileiros que trabalham no Egito, mas, até então, sempre com missões estrangeiras”, conta, animado, José Roberto Pellini, professor da UFMG que chefiará a empreitada. Foi depois de um convite do governo egípcio que Pellini e sua equipe montaram um projeto de escavação. “Eles nos deram muitas opções de trabalho em monumentos e acabamos escolhendo a tumba tebana 123.”

A estrutura foi construída na época do faraó Tutmósis III, rei conhecido como o Napoleão do Egito por suas empreitadas militares de conquistas de territórios. Mas, ao contrário das tumbas destinadas a enterrar os reis, como a luxuosa tumba de Tutancâmon, as tebanas eram um pouco mais modestas: serviam como cemitério de nobres e guardavam os objetos que eles queriam levar para a vida após a morte. A 123 era propriedade de Amenenhet, sobre quem pouco se sabe.

“Ele era um sacerdote e ocupava o cargo de contador de pães, o que era algo importante porque o pão funcionava como uma espécie de salário no Egito”, explica Pellini. O trabalho de escavação da tumba começará por uma pequena sala anexa, que está entupida até o teto de sedimentos. O que vão encontrar lá dentro é um mistério. Os pesquisadores ainda não sabem se os objetos nessa sala pertenciam realmente a Amenenhet ou foram usurpados de outras tumbas da necrópole.

A tumba 123 nunca foi estudada, a não ser no século 19, quando um pesquisador inglês entrou na estrutura. “Ele ficou um dia, mas não fez nada”, diz Pellini. O que os brasileiros encontraram apenas em uma limpeza superficial no início deste ano é promissor. “Identificamos vários materiais, pedaços de sarcófagos, duas partes de múmias, estatuetas. Tudo muito preservado, de altíssima qualidade. Então, a expectativa é grande para a escavação.”

Para especialistas, a missão coloca o Brasil no circuito da produção científica internacional. “É mais um importante passo para a área e que vai consolidando o diálogo com pesquisadores europeus, do Egito e americanos”, diz Maria Beatriz Borba Florenzano, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (Universidade de São Paulo).

Os pesquisadores brasileiros ficarão por 50 dias no Egito, entre janeiro e fevereiro, aproveitando tanto o período de férias acadêmicas como o inverno o país – fora desta estação, as temperaturas na região, desértica, podem passar dos 40º C. Cedinho, às 6 horas, as escavações começam. Ferramentas como colher de pedreiro ajudarão a retirar os materiais. Antes, um toxicologista avalia os riscos de contaminação dos materiais, guardados há centenas de anos – e o uso de máscaras dentro da tumba é obrigatório.

No fim do dia, longe da necrópole, o trabalho é quase igual ao de qualquer mortal: anotações em papéis, planilhas no computador, separação de fotos e vídeos. “Por mais que o Egito já venha sendo estudado há séculos, cada tumba tem uma história própria, que ajuda a compreender o papel dessa pessoa (a proprietária) no contexto. Quanto mais histórias conseguimos interpretar, mais temos ideia de como essa sociedade funcionava”, explica a arqueóloga Caroline Murta, coordenadora da escavação.

Nada do que for encontrado na tumba deverá ser trazido para o Brasil. Um acordo com o governo egípcio garante que as peças fiquem no país – ou guardadas na própria tumba ou no Museu Egípcio, no Cairo. O trabalho completo de escavação só deverá ser concluído nos próximos quatro ou cinco anos. Durante esse período, os pesquisadores esperam que mais brasileiros, incluindo estudantes de graduação interessados na arqueologia egípcia, se juntem ao projeto, em uma espécie de “tumba-escola”.

A vantagem, diz Caroline, é que a arqueologia no Egito é “didática” como em poucas partes do mundo. Protegidos pelo clima seco, até restos humanos, como as múmias, são encontrados em bom estado de conservação. “O material orgânico, difícil de achar no Brasil, se preserva muito bem lá. Isso é bom para alunos de graduação, é rico. É possível produzir muito conhecimento com esses objetos”, explica a arqueóloga.

Para democratizar o acesso à tumba, os pesquisadores também planejam colocá-la ao alcance dos olhos de qualquer um por meio da realidade virtual. Para isso, estão sendo feitas imagens em 360 graus da estrutura. A ideia é que as imagens – com as etapas da escavação – ajudem também os pesquisadores. Longe do Egito, será possível, por exemplo, relembrar de onde exatamente as peças foram extraídas, o que ajuda a interpretá-las.

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https://www.osul.com.br/primeira-missao-brasileira-no-egito-prepara-a-escavacao-de-uma-tumba/ Primeira missão brasileira no Egito prepara a escavação de uma tumba 2018-12-10
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