Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 5 de novembro de 2017
A pulverização de nomes de centro-direita para as eleições presidenciais de 2018 no Brasil preocupa agentes políticos e econômicos. O cenário nebuloso acabou criando uma espécie de “centro expandido”, com Geraldo Alckmin (PSDB), João Doria (PSDB), Henrique Meirelles (PSD) e figuras alternativas como Luciano Huck se acotovelando nas especulações.
Além deles, nomes de baixa densidade partidária devem engrossar o pelotão, como Alvaro Dias (PV) e João Amoêdo (Partido Novo). Mais à esquerda, há Marina Silva (Rede), que enfrenta ceticismo dos apoiadores, mas pode capturar algum naco do eleitorado mais centrista.
“Isso é agora. Haverá uma decantação do processo”, avalia o sociólogo Antonio Lavareda, um dos mais experientes analistas políticos do Brasil, tendo aconselhado mais de 90 campanhas. O cenário atual decorre de dois fatores. Primeiro, a cristalização nas pesquisas dos extremos do eleitorado nas figuras de Lula (PT, à esquerda) e Jair Bolsonaro (PSC, à direita). Segundo, até pela viabilidade dúbia desses dois nomes, perspectiva de poder sem que haja um nome francamente favorito.
“É imperativo para a centro-direita uma coordenação prévia”, diz Rafael Cortez, da consultoria Tendências. Foi isso o que propôs Doria, ao defender uma frente de partidos de centro. Outra parte da equação do tucano é manter-se no jogo após um mês de más notícias que desidrataram sua postulação.
No raciocínio exposto por Doria em evento com empresários no Rio na terça-feira (31), é preciso uma união das siglas ao centro contra a força dos extremos Lula e Bolsonaro. Esse é o arco que hoje sustenta Michel Temer, significativamente com o PMDB no papel de apoiador sem nome viável, além da variável da impopularidade recorde do presidente. DEM, PPS, PP, PTB e outros compõem o quadro.
Há pontos diversos a considerar. Se é verdade que Lula poderá ser impedido de concorrer caso seja mesmo condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, como o próprio PT acredita, ele poderá usar isso como trunfo.
“Lula iria se afirmar vítima e poderia repetir Roriz em 2010, só que com um nome até mais competitivo”, diz Cortez. Naquele ano, Joaquim Roriz teve a candidatura ao governo do Distrito Federal impugnada e lançou a mulher, a novata Weslian, às vésperas do pleito. Ela foi ao segundo turno e perdeu.
Concorda Richard Back, da XP Investimentos. “Lula pode ir até quase o fim e lançar seu preposto, só que seria um nome como o do [ex-prefeito de SP] Fernando Haddad”, diz. Já Bolsonaro é visto como alguém que deve se desidratar quando a campanha começar de fato, por sua baixa capilaridade em tempo de TV e apoios estaduais.
O fator “novo” é representado por Luciano Huck no grupo, já que ele pontua na casa dos 5% de largada nas pesquisas. Na análise de políticos e consultorias, há dúvidas sobre a viabilidade de Huck por inexperiência total. Lavareda vê mais chance de o apresentador, se de fato se filiar a algum partido, integrar uma chapa como vice “para vitalizar uma candidatura mais tradicional”. “Esta é uma eleição aberta, que tende à fragmentação. As condições de formar alianças vão gerar uma candidatura mais competitiva à frente”, disse.