Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 4 de julho de 2015
O tempo fechou em praticamente todo o território brasileiro. A causa apontada foi uma onda de racismo, sexismo e preconceito que começou na noite de quinta-feira e atingiu em cheio a apresentadora da Rede Globo Maria Júlia Coutinho.
Pelas redes sociais, na página do “Jornal Nacional” no Facebook, cerca de 50 mensagens racistas ofenderam a jornalista. A tempestade de crimes, no entanto, durou pouco. Rapidamente, internautas saíram em defesa de Maju, apelido da apresentadora que conquistou os telespectadores com carisma e simpatia.
A reboque da reação popular, o Ministério Público do Rio de Janeiro, por meio da Coordenadoria de Direitos Humanos, solicitou à Promotoria de Investigação Penal que acompanhe o caso, com rigor, junto à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática.
O presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcelo Dias, lamentou o ocorrido e lembrou que o episódio não foi “apenas um fato isolado”, mas trata-se de um caso recorrente no País ainda marcado pelos séculos de escravidão.
O ativista Ivanir dos Santos também protestou e pediu às autoridades que aproveitem a repercussão do caso para tomar medidas exemplares na punição aos criminosos. “O governo sabe o que tem de fazer. A Polícia Federal sabe o que tem de fazer. Chega de acharmos que é tudo brincadeira, tudo piadinha, tudo ironia. Essas pessoas precisam responder por esses crimes. Racismo é crime.”
Na sexta-feira, no “Jornal Nacional”, a apresentadora comentou o lamentável episódio e pediu providências às autoridades para que esse tipo de comportamento seja extinto no País.
“Infelizmente, eu já lido com isso [racismo] desde que me entendo por gente. Sei dos meus direitos e acho que essas medidas têm de ser tomadas para evitar novos ataques não apenas a mim, mas a outras pessoas. No entanto, queria dizer a essas pessoas que os comentários racistas ladram, mas a caravana passa”, disse Maju, prevendo um tempo melhor para ela própria a partir de agora.
Adesivos que humilham presidenta serão investigados.
Uma onda de intolerância e machismo também atingiu a presidenta Dilma Rousseff. Um adesivo ofensivo com uma montagem dela de pernas abertas e colocado nos tanques de gasolina dos carros causou polêmicas nas redes sociais e revolta no governo federal, em aliados e opositores.
A ministra Eleonora Menicucci, da secretaria de Política para as Mulheres, encaminhou uma denúncia ao Ministério Público Federal e ao Ministério da Justiça, com o objetivo de investigar e responsabilizar quem produz, divulga e comercializa os adesivos.
“É intolerável o material. Ele fere a Constituição ao desrespeitar a dignidade de uma cidadã brasileira e da instituição que ela representa, para a qual foi eleita e reeleita democraticamente”, destacou a ministra.
Desigualdade racial no País.
Divulgado recentemente, o “Relatório das Desigualdades Raciais no Brasil” aponta o agravamento das diferenças entre negros e brancos. O estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro mostra, por exemplo, que a probabilidade de um homem negro ser assassinado é mais do que o dobro se comparado a de um branco.
Entre as mulheres, a morte por homicídio entre as negras é 41,3% maior à observada entre as brancas.
A expectativa de vida da população negra segue inferior à da população branca. Entre os homens o indicador não passou de 66 anos. Já entre os brancos, chega a 72 anos. No estudo com as mulheres, a esperança de vida entre negras é de 70 anos, abaixo dos 74 anos das brancas.
A pesquisa também revela que o nível de escolaridade dos brancos ainda é muito maior do que entre os negros. (Caio Barbosa/AD)