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Colunistas República paralela

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De Dallagnol (foto) a Jucá, embates judiciais da Lava-Jato vão migrar para as urnas. (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

A melhor frase sobre o coordenador da Operação Lava-Jato, Deltan Dallagnol, após as últimas revelações do The Intercept, é da lavra do ministro Gilmar Mendes: “O trapezista cai quando pensa que aprendeu a voar”. Perfeito.

O moço foi longe demais. Ele não contava com a divulgação de mensagens do The Intercept. E notem: as revelações são apenas uma parte do que se conhece desse submundo. O que terão eles – Dallagnol, os seus auxiliares, o ex-juiz Moro –, além do que se conhece, combinado entre si ao vivo, vis-à-vis, em lugar fechado? Pela amostragem, é lícito supor que reincidiram em transgressões à ética e à lei, iguais ou mais graves do que as divulgadas. Com o tempo, com o aplauso da mídia e dos cidadãos irados com a corrupção, se concederam prerrogativas que nunca tiveram.

Em defesa de Dallagnol, um áulico disse que ninguém resiste a uma devassa nos telefones. Minha tendência é concordar: acho que nem os inocentes escapam. Se você estiver grampeado e falar em alface, quem escuta pode achar que é um código para a moeda americana, o dólar. E muitas vezes uma alface é apenas uma alface, como em Freud, explicando que o sonho com um charuto pode muito bem ser apenas um charuto.

Mas se é verdade que ninguém resiste a gravações sistemáticas, então aquelas tomadas de criminosos de colarinho branco e réus corruptos também deveriam merecer a atenuante.

O fato – o grave fato – é que o irrequieto procurador andou fazendo investigações clandestinas, em conluio com coleguinhas de departamento, sobre ganhos possivelmente ilícitos das esposas dos ministros do STF, Gilmar Mendes e Dias Toffoli, não por acaso críticos dos métodos da Lava-Jato e do seu coordenador.

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou dias atrás, um tanto contrariado, que “só mesmo no Brasil para outros defenderem que pessoas suspeitas de, por exemplo, envolvimento em terrorismo, em grupos terroristas ou em exploração sexual infantil não devam ser barradas na entrada e deportadas sumariamente”(sic). Como é mesmo, doutor Moro? Suspeitos, simples suspeitos, barrados na entrada e deportados sumariamente? Só ditaduras agem assim.

Só mesmo no Brasil um procurador do Ministério Público move os pauzinhos para encontrar ilicitudes senão dos ministros da Corte Suprema, das suas respectivas esposas, e nada lhe acontece. Em um país de verdade, o procurador iria imediatamente olhar os lírios do campo e cantar em outra freguesia.

Não satisfeito, Deltan, que a essas alturas pensava que já sabia voar, tentou influenciar, durante o governo Temer, a nomeação de um ministro do Supremo Tribunal Federal, usando das ferramentas de investigação que estavam ao seu dispor – embora não para essa finalidade. É uma acintosa ousadia.

Uma coisa é certa: Deltan, os seus coleguinhas de Lava-Jato, o ex-juiz Moro, ficaram menores depois das revelações. Podem espernear à vontade sobre a legalidade das mensagens, mas todos sabemos – e sabem eles, o procurador, seus colegas, o ex-juiz Moro, mais do que nós – que os diálogos existiram, da forma como foram transcritos, revelando a existência de uma república paralela, a da Lava-Jato.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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