Colunistas Resfriamento de Esquerda
Por Redação O Sul | 4 de maio de 2019
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Jair Bolsonaro é rápido no gatilho, o que é normal para quem dorme com uma arma na cabeceira da cama. Não gostou de um anúncio do Banco do Brasil, mandou retirá-lo do ar e demitir o diretor da área. O presidente do banco, Rubem Novaes, que não é da cota dos militares no governo mas sabe o que é hierarquia e disciplina, topou na hora e os fatos se consumaram na velocidade de um raio. O diretor de marketing, Delano Valentim, demitido, não leu direito o script e dançou.
É do senso comum não decidir por impulso. Mas isso deve ser coisa da velha política. E isso não é Bolsonaro. Ele está mais para Mussolini que, irritado com o folclórico atraso dos trens italianos na época, foi pessoalmente à estação e na frente de todo mundo demitiu o maquinista. As massas italianas (as massas aqui não no sentido de spaguetti) foram à loucura.
Agora, ele anda invocado com o ensino de sociologia e filosofia. Ele deveria pensar melhor e esquecer os cursos, os professores e os estudantes dessas matérias. As ciências sociais detêm (praticamente) o monopólio do saber político nas escolas públicas, na academia. Se elas perderem a importância, contra quem o presidente irá escrever no twitter? Se ele finalmente varrer do mapa o marxismo cultural, o comunismo, o que ele irá combater? De que os seus milicianos das redes sociais vão se ocupar?
A rigor, Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto com o apoio de um único e cavernoso guru intelectual, Olavo de Carvalho. Os professores, filósofos, sociólogos e cientistas sociais deste País – quase todos – sofreram uma derrota humilhante em 2018. Deveriam fazer no mínimo um curso por correspondência de astrologia: aprender a ler os astros, como o bruxo da Virgínia.
Lula, na entrevista aos jornais Folha de São Paulo e El País, pegou pesado e disse que o governo de Bolsonaro é um “bando de maluco” (sic). Ele se mostrou, e a meu ver sinceramente, comovido com os seus fiéis seguidores que, das proximidades, todos os dias da semana, o saúdam em coro: “bom dia, presidente!”, “boa noite, presidente!”. Quando sair da cadeia – prometeu – a primeira coisa que vai fazer será tomar uma cachaça com a companheirada do acampamento.
O presidente aproveitou a deixa e no seu estilo bolsonaro (aqui usado como adjetivo e portanto em minúscula mesmo) replicou de bate-pronto: “Pelo menos não é um governo de cachaceiros”.
Mas se Lula deu mole para a resposta de Bolsonaro, não perdoou Sérgio Moro. O ex-presidente lembrou que todo mundo ironizava quando usava a expressão “menas”. Lula pediu isonomia de tratamento com Moro, que prefere usar a expressão “conge” (ou “conje”?) e não cônjuge.
Os senadores Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e Márcio Bittar (MDB-AC) radicalizaram de vez. Agora, não só negam o aquecimento global: o que existe de verdade é o inverso, o resfriamento global. Os senadores acham que a ideologia verde é o refúgio dos esquerdistas. O aquecimento é de esquerda, segundo eles. Então o resfriamento só pode ser de direita.
Os Bolsonaros também têm batido firme nos radares de trânsito. Desconfio que tem alguma coisa a ver com os malditos comunistas.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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