Sábado, 20 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 10 de outubro de 2016
Em reuniões de negociação de delação premiada, o empresário Marcelo Odebrecht entrou em atrito com advogados da própria empresa e integrantes da força-tarefa da Lava-Jato e alegou inocência em vários crimes atribuídos a executivos da companhia.
Porém, ante a possibilidade de ver enterrada a colaboração premiada, acabou admitindo participação direta nos delitos, o que levou procuradores do Ministério Público Federal a comemorar o desfecho dos depoimentos. O momento de maior tensão nas tratativas ocorreu em setembro, na segunda das três entrevistas realizadas pelos procuradores da República com o empresário para definição dos assuntos que iria abordar na colaboração.
Além de Odebrecht e dos procuradores, essa reunião teve a participação do defensor pessoal dele, o ex-procurador da República Luciano Feldens, e de advogados da empresa. Feldens estava trabalhando com o empresário na elaboração dos anexos com os assuntos da colaboração.
Nessa entrevista, inicialmente o empresário afirmou que não tinha responsabilidade sobre vários dos crimes apurados e questionou o fato de a pena dele ainda não estar sendo definida. Também culpou apenas funcionários da empresa pelas ilicitudes.
Já condenado na Lava-Jato, ele comentou na reunião que um dos advogados da empresa havia dito que estava negociando com a força-tarefa para que ele saísse da prisão em três meses. Os procuradores negaram a possibilidade, o que o deixou irritado.
Os procuradores então sinalizaram que aquela conduta poderia levar a delação a naufragar. Passaram a dizer que Marcelo Odebrecht não estava contribuindo da maneira como esperavam e, por isso, o empreiteiro estava “de bola preta” – expressão usada para se referir a um candidato a sócio de um clube que tem o ingresso negado.
Os advogados da empreiteira tentaram convencê-lo a mudar de atitude, o que o deixou mais nervoso ainda. O empresário, então, passou a discutir com os defensores da própria empreiteira, gerando grande constrangimento. A reunião teve que ser suspensa. Os gritos eram ouvidos do corredor, segundo agentes da PF (Polícia Federal) no local.
Quando a entrevista foi retomada, Odebrecht disse aos procuradores que havia pensado no futuro de sua família e iria cooperar, revelando como havia atuado nos crimes. Após essa entrevista, foi realizada mais uma reunião na qual o empresário admitiu sua participação em delitos. Ao final, a força-tarefa considerou o conteúdo dos relatos de Odebrecht um grande feito para a Lava-Jato.
O empresário, porém, voltou deprimido para a carceragem. Segundo pessoas que convivem com ele na superintendência da PF, a delação não fez bem para o empreiteiro, que ficou alguns dias melancólico e mais calado. (Folhapress)