Sexta-feira, 29 de março de 2024

Porto Alegre

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Esporte Responsável por revelar escândalo sexual no futebol inglês, Andy Woodward afirma que no Brasil a situação pode ser ainda pior

Compartilhe esta notícia:

Andy Woodward veio ao Brasil para fazer palestras na campanha “Chega de Abuso”. (Foto: Reprodução)

Andy Woodward fazia compras em um supermercado na Inglaterra quando começou a sentir palpitações, seguidas de um senso de ansiedade desesperador. Vou morrer aqui, pensou. Era ataque de pânico. Aconteceu dias após ter decidido contar à polícia que durante seis anos, enquanto estava nas categorias de base do Crewe Alexandra, clube da quarta divisão inglesa, foi vítima de abuso sexual.

Dos 8 aos 14 anos, ele foi abusado por Barry Bennell, técnico do time. Woodward foi o primeiro a denunciá-lo na imprensa, em 2016, no que ele mesmo diz ter sido a decisão mais difícil de sua vida. Por causa da iniciativa, outras vítimas tiveram coragem de falar. Bennell foi condenado a 31 anos de prisão.

“Dentro de mim, eu sabia que isso era um problema não apenas no Reino Unido, mas ao redor do mundo. O único jeito de ajudar era contando a minha história. Era risco enorme. Ninguém mais poderia aparecer e as pessoas ririam de mim. Às vezes, só é preciso uma pessoa e essa pessoa era eu. Hoje tenho orgulho do que fiz. Sei que salvei vidas e esse é um sentimento maravilhoso”, afirma Woodward, hoje com 44 anos, ao jornal Folha de S.Paulo.

Ele veio ao Brasil para palestras e eventos promovidos pelo Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo na campanha “Chega de Abuso”. Na última quinta-feira (26), foi ao Santos conversar com os garotos e jogadoras do time feminino.

Na semana anterior, o clube paulista afastou Ricardo Crivelli, coordenador da base, pela denúncia feita por Ruan Petrick, 19. Este afirma ter sido abusado sexualmente pelo então olheiro em 2010, quando estava com 11 anos. A polícia de São Paulo abriu inquérito para investigar o caso. Crivelli nega a acusação.

Um dos questionamentos da defesa do coordenador é o motivo para o acusado ter aguardado oito anos para denunciar. Woodward esperou 13. Ele ouviu falar do caso, mas se recusa a fazer juízo de valor. “Eu sei o que é ter um segredo escondido dentro de você. Você coloca aquilo em uma caixa [aponta para a cabeça] e quer que vá embora para que possa seguir em frente com a vida. Há o medo de que ninguém vai acreditar, o que a família vai pensar, que efeito terá sobre a carreira de jogador… Quando você coloca tudo isso junto, esse sentimento não vai embora”, completa.

Nos cinco dias no País, Woodward esteve em ONGs, conversou com jovens que sonham ser atletas profissionais e bateu na tecla de que é preciso criar uma rede de segurança para as crianças. Porque ele mesmo sabe, por experiência própria, que elas podem ser alvos fáceis.

Na América do Sul há um componente extra em relação à Europa. Não é raro um jovem de talento no futebol carregar a esperança de toda a família de sair da pobreza. “É muito mais difícil para os garotos no Brasil. Porque no futebol eles têm o poder de melhorar a vida dos pais. Podem até achar que isso [sofrer abuso] faz parte do processo para chegar onde sonham. Mas não pode ser assim. É preciso educação, dar exemplos positivos e mostrar que podem ter coragem e acreditar que o melhor é falar sobre isso.”

“Minha carreira no futebol foi roubada. Tive de lutar durante toda a juventude até os 29 anos, quando parei, para entrar em campo. Quando alguém gritava comigo, por qualquer motivo, ninguém sabia o que se passava na minha cabeça”, lembra.

Não é difícil perceber que, a partir dos abusos, Woodward passou anos perdido, sem saber como se encontrar. O homem que passou anos o abusando sexualmente se casou com a irmã de Woodward. Tornou-se cunhado de Bennell, seu algoz, convivendo com ele em festas e eventos familiares, sem coragem para contar a verdade.

Quando a irmã soube o que havia acontecido, entrou com o pedido de divórcio. Após parar de jogar, Woodward quis ajudar os outros. Entrou para a polícia. “Eu queria fazer a diferença, mas afetou minha maneira de ver as coisas. Lidar com alguns casos foi bem difícil”, afirma ele, que sofreu sanção disciplinar por ter tido romance com uma mulher relacionada a um caso que investigava.

Em nenhum momento Woodward chama Bennell pelo nome. Refere-se ao abusador apenas como “ele.” Não o perdoa, mas não mostra ódio. Afirma ser indiferente e que vê-lo atrás das grades é o bastante. Levou anos e sessões de terapia para lidar com o trauma emocional. Revelar ao mundo ajudou. O custo na vida pessoal foi grande: três casamentos fracassados. Ele está no quarto. “Todos que sofreram esse tipo de abuso têm histórico de relacionamentos fracassados, vícios em álcool ou drogas.”

Ele não esquece o que aconteceu, mas encontrou um jeito de lidar com isso. A recompensa é os pais que o param na rua para agradecer porque agora estão atentos ao comportamento dos filhos que jogam futebol, o esporte que quase roubou também sua vida. Woodward teve pensamentos suicidas mais de uma vez. Hoje ele afirma estar bem. Mais do que isso: garante que nunca esteve melhor. Encontrou uma missão na vida.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Esporte

No Judô, brasileiro Felipe Kitadai vence na estreia com golpe no último segundo
Americana Virginia Thrasher conquista a primeira medalha de ouro dos Jogos Olímpicos
https://www.osul.com.br/responsavel-por-detonar-escandalo-no-futebol-ingles-andy-woodward-afirma-que-no-brasil-a-situacao-pode-ser-ainda-pior/ Responsável por revelar escândalo sexual no futebol inglês, Andy Woodward afirma que no Brasil a situação pode ser ainda pior 2018-05-01
Deixe seu comentário
Pode te interessar