Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 13 de junho de 2017
De acordo com as investigações, feitas a partir da delação da JBS, uma das preocupações do ex-assessor do presidente Michel Temer Rodrigo Rocha Loures era como receber os repasses de R$ 500 mil que a JBS/Friboi prometia entregar toda semana em troca de favorecimento em uma disputa no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Nas conversas com o executivo da J&F Ricardo Saud, Rocha Loures trabalhava com duas opções de pessoas para receber o dinheiro: um foi chamado de “Edgar”, que a polícia ainda não localizou.
Loures: “Então vamos fazer o seguinte… eu vou verificar com Edgar, se o Edgar… tem duas opções: ou o Edgar ou o teu xará”.
O “xará” de Ricardo Saud citado na conversa é Ricardo Mesquita, executivo da Rodrimar – uma empresa especializada em comércio exterior, que atua no setor de portos, com base em Santos (SP). Ele já tinha aparecido no café onde o ex-assessor do presidente Temer se reuniu pela primeira vez com o executivo da J&F Ricardo Saud.
Ricardo Saud: “O Rodrigo pegou e falou: ‘Ó, esse é o seu xará, você sabe’. Tô cansado de saber. Nós fomos lá quantas vezes quando nós estávamos fazendo negócio, o Temer sempre ajudou a gente. ‘Tá bom, depois quero te falar sobre ele, tudo bem?’ Tudo bem, falei ‘tchau, tchau, tchau’ e fui embora. A operação acabou aí.”
Naquele segundo encontro dos dois, em 28 de abril deste ano, no dia da entrega da mala, Rocha Loures e Ricardo Saud discutiram como seria feito o pagamento semanal. E o nome de Ricardo Mesquita foi citado de novo.
Rocha Loures: “Eu até pensei… lembra aquele dia que nos encontramos, tomamos um café, que a gente encontrou com seu xará?”
Saud: “O Ricardo.”
Loures: “Essa, esse era um horário…” (inaudível)
Saud: “Com o Ricardo?”
Loures: “Isso, aí ele poderia fazer… (inaudível)”
Saud: “Tranquilo. Aí eu não queria… ver se fazia com ele lá na JBS, talvez na escola, não.”
Loures: (inaudível) “Vocês trabalham juntos? …vocês se encontrarem… uma coisa natural.”
Na quinta-feira passada, Ricardo Mesquita foi interrogado pela Polícia Federal. O executivo da Rodrimar disse que conhecia Rocha Loures desde 2013 e já tinha feito negócios com Ricardo Saud. A Rodrimar vendeu um terminal portuário à Eldorado Celulose, empresa da J&F.
No depoimento, Mesquita disse que nunca foi sondado por Loures para receber dinheiro em espécie na JBS ou de alguém vinculado à essa empresa. Disse que “acredita que Ricardo Saud e Rocha Loures ventilaram a participação dele no esquema porque eles se encontraram por acaso no café.”
No entanto, o executivo da Rodrimar confirmou que no dia em que a mala com R$ 500 mil foi entregue a Rocha Loures ele falou por telefone com o ex-assessor do presidente. Esses telefonemas foram gravados pela Polícia Federal. No primeiro, às 17h23min, Rocha Loures pergunta se Ricardo Mesquita estava longe, se poderia encontrá-lo. Segundo as investigações, nesse momento, Rocha Loures estava ao lado de Ricardo Saud, que já estava com a mala. Ele estavam no estacionamento de um shopping.