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Saúde Saiba o que diz o estudo da Fiocruz vetado pelo governo

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Estudo sobre drogas, feito pela Fundação Oswaldo Cruz, está no centro de um impasse com o governo, que o engavetou. (Foto: Divulgação)

Enquanto o governo endurece as políticas para drogas ilícitas, deixa de olhar para uma substância cujos índices despontam no País: os opiáceos. Derivados do ópio e usados em medicamentos para dor, eles aparecem com índices maiores que os do crack, por exemplo, no 3ª Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira (Lnud). No estudo, feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – que está no centro de um impasse entre o governo, que o engavetou, e a comunidade científica –, lê-se que 4,4 milhões de brasileiros já fizeram uso de opiáceo uma vez na vida, ou 2,9% da população. As informações são do jornal O Globo.

O número é muito superior ao dos brasileiros que declaram já ter usado crack na vida – estes são 0,9% da população, ou 1,393 milhão de pessoas. Os dados devem ser comparados com cautela, segundo pesquisadores. O uso do crack se dá sobretudo em cena aberta (a maioria dos usuários está em situação de rua), e a pesquisa da Fiocruz usou a metodologia do inquérito domiciliar, em que o sujeito responde face a face a uma entrevista. Quanto ao opiáceo, a pesquisa se refere à substância como medicamento não-prescrito, ou seja, comprado e consumido de forma ilícita. A maioria dos usuários de crack está em situação de rua, e a pesquisa da Fiocruz usou o inquérito domiciliar, em que o sujeito responde em casa à entrevista. Foram feitas 16 mil entrevistas em 351 cidades brasileiras.

Não se trata de um percentual alto (2,9% na vida), se comparado com os Estados Unidos, onde de fato há uma epidemia de opióides. Mas temos que prestar atenção porque os opiáceos são substâncias com alto potencial de gerar dependência. É preciso monitorar esses dados com frequência para que sejam criadas políticas públicas de prevenção efetivas”, diz a psiquiatra Nicola Worcman, especialista no tratamento de dependentes de álcool e drogas.

Ela completa: “O último boom de opioide nos EUA começou de 2013 para cá, ou seja, não dá para esperar cinco anos para fazer outro levantamento sobre uso de drogas, como se dá no Brasil.”

A pesquisa da Fiocruz foi concluída em 2017 e, desde então, não se tornou pública. O jornal O Globo teve acesso à íntegra do documento que, segundo o Ministério da Justiça, órgão que encomendou o trabalho, não pode ser “reconhecido” pelo governo porque não teria cumprido a exigência de comparabilidade com estudos anteriores (de 2001 e 2005), feita no edital de R$ 7 milhões que custeou o estudo. Em resposta, a Fiocruz já apresentou dois suplementos oferecendo comparações, alertando, no entanto, que estavam distantes da chamada “comparação ótima” — algo impossível, já que os estudos adotam amostras distintas.

Para especialistas, porém, o engavetamento da pesquisa só se explica por um motivo: ela não confirma que o Brasil vive uma “epidemia de drogas”, como costuma repetir o ministro da Cidadania, Osmar Terra. Procurado pela reportagem para comentar os dados do estudo, ele informou que não iria se pronunciar. Em entrevista ao jornal O Globo na semana passada, disse que “não confia” nas pesquisas da Fiocruz. Afirmou que andou “nas ruas de Copacabana, e estavam vazias” e que “se isso não é uma epidemia de violência que tem a ver com drogas”, ele “não entende nada”.

O estudo, de fato, não confirma a caminhada do ministro por Copacabana. Só 0,1% dos brasileiros usaram crack no mês anterior à pesquisa. O índice é bem maior quando se trata de álcool: 30,1%.

A pesquisa realmente desconstrói esse pânico que o governo tenta criar em torno do crack e das drogas ilícitas. Não que não seja um problema. Precisamos olhar para os números do crack e pensar em políticas públicas. Mas o governo nega a ciência para defender um discurso catastrófico que alimenta a defesa da abstinência e, logo, a indústria da internação”, diz o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp.

Doutor em Neurociência, o biomédico Renato Filev afirma que “ao censurar a pesquisa, o governo priva o país de números importantes para balizar políticas públicas”.

Não se pode promover um debate científico porque a opção do governo é o obscurantismo, a anticiência. Está se apostando na impressão pessoal”, lamenta Filev, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).

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https://www.osul.com.br/saiba-o-que-diz-o-estudo-da-fiocruz-vetado-pelo-governo/ Saiba o que diz o estudo da Fiocruz vetado pelo governo 2019-06-02
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