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Por Redação O Sul | 29 de setembro de 2018
Um mês após a proibição do uso do véu islâmico integral em espaços públicos, uma nova lei na Dinamarca pretende rejeitar a concessão da cidadania dinamarquesa a imigrantes que se recusarem a apertar a mão de autoridades nas cerimônias de naturalização. Trata-se de uma proposta que, segundo os críticos da medida apresentada pelo governo de centro-direita, tem como alvo explícito os muçulmanos. Por razões religiosas, alguns muçulmanos preferem, em lugar do tradicional aperto de mãos, colocar a mão sobre o peito em sinal de reverência.
A ideia divide os dinamarqueses: pesquisas de opinião apontam que 52% dos entrevistados discordam do aperto de mão obrigatório, e vários prefeitos já se posicionaram de forma contrária à proposta. Para seus detratores, o projeto simboliza uma violação constitucional da liberdade de religião no país.
Já para seus defensores, o projeto é mais um passo no sentido de obrigar os imigrantes a abraçar a cultura e os valores dinamarqueses. E é este o argumento recorrente dos aliados da coalizão de governo para as cada vez mais restritivas políticas de imigração do país.
“Apertar as mãos é a forma como cumprimentamos uns aos outros na Dinamarca. É a maneira como demonstramos respeito aos demais neste país. Portanto, é natural que o ato do aperto de mãos faça parte das cerimônias de concessão de cidadania”, disse a ministra dinamarquesa de Imigração e Integração, Inger Støjberg, do partido Liberal (Venstre), ao jornal Jyllands-Posten.
Nas cerimônias de naturalização previstas pela nova lei, os imigrantes também terão que prometer fidelidade aos princípios fundamentais da sociedade dinamarquesa.
“Para algumas pessoas, a cidadania dinamarquesa é tão importante que elas dariam até seu braço direito por ela. Portanto, provavelmente elas também dariam um aperto de mãos. Elas têm que cumprir o pacote completo, e também jurar lealdade aos valores do nosso país”, destacou Naser Khader, porta-voz do Partido Conservador Popular (K, na sigla em dinamarquês) para assuntos de imigração, em entrevista ao jornal Ekstra Bladet.
Caso a lei seja aprovada, a taxa para a obtenção da cidadania dinamarquesa será triplicada: em razão dos custos administrativos envolvidos na realização das novas cerimônias de naturalização, a previsão é de que a taxa subirá de 1,2 mil para 3,6 mil coroas dinamarquesas (cerca de R$ 2,3 mil).
“Considerando-se que a pessoa estará recebendo o privilégio de obter a cidadania dinamarquesa, não acho que seja caro. Penso que a cidadania dinamarquesa seja um presente extraordinariamente grande e valioso”, destacou o porta-voz do ultradireitista Partido do Povo Dinamarquês (Dansk Folkeparti, DF), em declarações à agência de notícias dinamarquesa Ritzau.
O principal motor da guinada cada vez mais à direita nas políticas de imigração e integração na Dinamarca tem sido exatamente a escalada do partido anti-imigração na cena política dinamarquesa, a exemplo da tendência observada em diversos outros países europeus.
Nas eleições de 2015, em meio ao ponto mais alto da crise dos refugiados na Europa, o Partido do Povo Dinamarquês tornou-se a segunda maior força política do Parlamento.
No caso dinamarquês, a ascensão da extrema-direita parece ter produzido também uma certa naturalização da retórica anti-islã no espectro político – não apenas entre os partidos conservadores, mas também por parte da progressista social-democracia.
O Parlamento dinamarquês também aprovou lei autorizando a polícia a revistar a bagagem dos imigrantes e apreender dinheiro e pertences de valor superior a 10 mil coroas dinamarquesas, a fim de cobrir os custos com alimentação e habitação durante o período de processamento dos pedidos de asilo. A medida levou a comparações com a confiscação de ouro e outros bens materiais de judeus pela Alemanha nazista.